domingo, 23 de dezembro de 2012

Onde estão os cadeados da Ponte Milvio?

   Você consegue imaginar uma cena que pode exprimir O que é o Amor? 
Se você me pegasse de surpresa eu poderia, eu lembraria de duas ou três cenas. Talvez para você as referências podem ser outras, talvez você tenha outras listinhas... mas eu me lembraria de algumas imagens como

O quadro de Francesco Hayez, O Beijo, que eu vi na Pinacoteca de Brera....





Aquele quadro de Klimt...




Ou quem sabe (é o meu preferido, confesso), aquela foto de Doisneau, "Le baiser de l´ Hotel de Ville)



Quando eu vejo estas cenas, me ponho a pensar sobre as histórias de vida, passadas e futuras, histórias unidas ou separadas, pelo amor....

Em minha vida tive a oportunidade de ver isso de perto. Um lugar mágico, que tem sua significância pelas histórias de amor vividas e juradas ali, às margens do Rio Tibre, numa ponte distante do centro...onde casais vão para lá, colocar um cadeado para juramentar seu sentimento. O amor deve ser solene quando o momento pede...

 E foi assim que eu fui lá, no meu último dia em Roma, visitar a famosa Ponte Milvio, cujo relato vou fazer neste que é um dos meus últimos post sobre a viagem para a Itália.




OS ROMANOS E A PONTE MILVIO



    A Ponte Milvio é uma das das dezenas de pontes que cortam o Rio Tibre...Ela é uma das mais antigas, e também uma das mais importantes. Na época dos romanos, esta ponte servia de passagem para o norte....por ali passava a famosa Via Flaminia, que levava os romanos até  a Gália, Lutèce, etc...quando se chegava na Ponte Milvio, sabia-se que estavam na zona limítrofe da cidade....

  

    A Ponte Milvio também foi palco de uma batalha legendária. Foi para comemorar a Batalha da Ponte Milvio (outubro de 312 d.C) que os romanos construíram aquele imenso Arco do Triunfo ao lado do Coliseu...Essa batalha marcou o declínio da Tetrarquia e a ascensão de Constantino ao poder...mas não é este o foco deste post, né?

  
    Para um historiador  como eu, mesmo que História Antiga não seja a “minha praia”, já era motivo suficiente para querer conhecer este lugar....

   

LUCCHETTI DELL´AMORE:  A PONTE DOS "CADEADOS DO AMOR"

    Mas não é por isso que esta ponte é conhecida hoje em dia. Não é todo mundo que tem gosto por História...É por outro motivo que as pessoas se dirigem para lá...





     Tudo parece ter começado com um costume antiquíssimo... Dizem que antigamente, os jovens, quando completavam o serviço militar, iam até a Ponte Milvio colocar o  cadeado do seu armário no lampião da ponte...e jogavam fora a chave nas águas do Rio Tibre, era um sinal de que havia cumprido um ciclo da vida...sinal de tarefa cumprida... o jovem, ao completar o serviço militar, jogava fora as chaves do cadeado, querendo simbolizar a emancipação, “agora vou tocar a vida pra frente”, certamente eles pensavam isso...




   Mas, de certa forma, esta antiga tradição juvenil foi suplantada por uma outra “mitologia”, a dos casais românticos que vão até a Ponte Milvio, colocam o cadeado no lampeão, como uma maneira de eternizar o seu compromisso, o seu amor...








   Dizem que se o cadeado estiver lá, firme e forte, o amor dos jovens apaixonados nunca terminará, será eterno...







   HO VOGLIA DI TE....
     

   A Ponte Milvio esteve comigo em pensamento durante muito tempo. Há dois anos, quando eu estive em Paris, vi uma tradição parecida...os casais apaixonados deixam cadeados na Pont des Arts...e há lugares assim em vários lugares do mundo...várias pontezinhas, vários cadeados, várias histórias de amor...



   Mas se a Ponte Milvio é a mais conhecida delas, é porque muita gente conheceu essa tradição, que se popularizou no livro de  Frederico Moccia, Ho Voglia di Te (Eu te Quero), em que há uma  cena emblemática em que o casal protagonista colocam um cadeado no terceiro lampião do lado norte da ponte, para selar o seu compromisso... (na verdade Ho Voglia di Te é continuação de uma história que começa em Tre Metri Sopra il Cielo [Três Metros acima do Céu] mas não, eu não vou ficar falando disso aqui...)







    O livro virou um filme em 2006...e muitos casais começaram a imitar o gesto popularizado pela cena de Ho Voglia di Te...











   O costume certamente não começou com o livro e o filme, mas Ho Voglia di Te popularizou um antigo costume dos jovens romanos...o dos cadeados na Ponte Milvio.. Todo mundo começou a pirar o cabeção...



  Tanto que finalmente aconteceu o que todo mundo temia...


  "CORAÇÃO PELUDO"...A RETIRADA DOS CADEADOS DA PONTE MILVIO...

   Depois de vários anos, com o afluxo de casais para aquela ponte, e a popularização do costume dos cadeados...os lampeões começaram a se sobrecarregar...Logo, não era mais apenas o terceiro lampião do lado norte que estava cheio deles, toda a ponte estava repleta de cadeados...E não tardou que um deles não aguentasse o peso e caísse!!

  A prefeitura então começou a retirar os cadeados da Ponte Milvio...Lá se vai o sonho de que os cadeados ficariam ali para sempre!!!  (Sim, os casais apaixonados são perfeitamente idiotas para acreditar que os cadeados ficariam ali eternamente)...


A prefeitura ainda tentou algumas soluções para não sobrecarregar os lampiões da Ponte Milvio, por exemplo, colocando varais com correntes ao longo do trajeto... 




Esses varais também ficavam carregados de cadeados, e de vez em quando eles eram trocados...os cadeados é claro, acabavam fundidos e vendidos (da mesma forma que as moedinhas que os turistas jogam na Fontana de Trevi),  gerando uma certa receita para a cidade...

  Mas isso também começou a se tornar ploblemático porque dizem que com o tempo a corrosão dos cadeados tem danificado seriamente a estrutura desta ponte histórica..aí fudeu tudo! 

   Então, exatamente alguns dias antes da minha viagem, eles resolveram retirar vários cadeados que estavam ali, "danificando a ponte"..após uma intensa batalha...parece que tudo caiu para o lado do mais fraco....os cadeados finalmente foram retirados de lá...

   Fazer o que, me ferrei, cheguei lá na hora errada... (assim como aconteceu com a minha visita ao Cinecittà - outra decepção - que eu encontrei vazia, em meio à uma greve dos operadores). 


   Eu cheguei na Itália em meio à uma polêmica entre prós e contras aos "cadeados do amor"...


   O prefeito de Roma em pessoa foi lá conferir a retirada dos cadeados...o pessoal ficou inconformado...O próprio autor do livro Ho Voglia di Te, Frederico Moccia colocou-se em defesa dos pombinhos apaixonados, dizendo que aquilo não tinha nada haver, que Roma tinha problemas gravíssimos como monumentos depredados e pichações pela cidade, etc. Não adiantou...







   Mas, é claro, mesmo que os cadeados sejam retirados, eles não tardarão  a aparecer por ali novamente...e logo logo, eu espero, quando menos se imagina...a ponte estará novamente abarrotada de penduricalhos e seus recadinhos amorosos...é o que eu desejo do mais fundo do meu coração...


    Mas não se desespere...apesar de todo o bafafá, ainda é possível um Plano B..
   Por exemplo, você pode colocar um "cadeado virtual" na Ponte Milvio, neste site: http://www.lucchettipontemilvio.com/ (claro que não tem a mesma magia né?) 

   No momento em que eu escrevo este post há uma grande pressão em cima da ponte, os casais que forem pegos colocando as lucchetti dell´ amore podem ser multados..a coisa anda feia, as autoridades de Roma têm o "coração peludo"...




...e parece que de alguma forma, os cadeados estão migrando para outras regiões da cidade...Quando eu estive em Roma eu vi alguns cadeados num canto da Isola Tiberina e muita gente está dizendo que eles começaram a aparecer também numa esquina perto da Fontana de Trevi...



   Eles podem interditar o local, mas não o coração das pessoas..hehehe...


  A PONTE MAIS ROMÂNTICA DO MUNDO (MAS NÃO PELA MANHÃ...)

    Mas como a Ponte Milvio é um pouco afastada da zona mais turística de Roma, é mais provável que pouca gente vá para lá. Seu "público alvo" são principalmente os casais de innamorati...e eventualmente, algum historiador maluco como eu...Mas o "turista comum", esse não está ali, está bem longe...afinal, a Ponte Milvio está onde antigamente terminava a cidade...para chegar lá, pelo menos uns 45 minutos de caminhada de ida, e outra de volta...

    Com certeza, ela é uma ponte belíssima, e as águas do Rio Tibre são muito vistosas naquela parte da cidade...elas vem com volume, o rio fica muito bonito, depois que ele passa da região da Piazza di Spagna e vai parar ali no norte da cidade, volumoso, imponente..são sobre aquelas águas meio esverdeadas  sob um céu nublado que eu encontrei a famosa Ponte Milvio...



   Para se chegar na Ponte Milvio, é preciso andar uma boa parte do trajeto a pé...Descendo na Piazza del Popolo, na extremidade norte da praça, em frente ao portão, começa a legendária estrada romana imperial, a Via Flamínia, ela ainda é conservada hoje em dia, apesar de que em nada lembra que aquilo era uma estrada antiga....mas o traçado reto ainda está lá...



  Eu percorri todo esse trajeto embaixo de chuva...Era meu último dia em Roma, e eu ainda queria ver a Ponte Milvio antes de ir embora...







  Mas chegando lá, eu percebi rapidamente que a Ponte estava muito diferente de como eu a imaginava...








   
   Eu imaginava um lugar cheio de cadeados, repleto de casaizinhos românticos, gente declarando poemas, manifestações desarrazoadas de paixão... 

    Não, sei, de alguma forma eu esperava nada menos do que um casal se beijando à la Doisneau e a sua famosíssima foto  le Baiser de l´Hotel de Ville...



 Mas o que eu encontrei foi uma ponte “normal”, com pessoas atravessando rapidamente a ponte, com o rosto sonolento e fechado, à caminho do trabalho a passos largos...





   Ainda por cima, o clima em nada ajudava. Era uma manhã feia, nublada, o vento cortava o rosto com respingos de chuva...tudo parecia silencioso e melancólico naquela parte mais ao norte de Roma, fora da agitação dos turistas...









    Se eu estivesse naquela mesma hora, na Fontana de Trevi, por exemplo, nem iria perceber, se eu estivesse cercado de gente, nem ia notar nada, não ficaria tão evidente..

    Mas àquela hora ,sozinho,  umas 9 horas da manhã de um dia de semana, a Ponte Milvio me pareceu tristemente solitária...lá não havia nenhum casal apaixonado, não...só a chuvinha gelada, e a ponte vazia....


 CADÊ OS CADEADOS?

    E o pior sabe o que foi? Os cadeados? Mas onde diabos estão os cadeados? Eu imaginava uma ponte repleta de cadeados, até ficar toda abarrotada, cheia de varais, ou com o peso dos cadeados vergando os lampeões. Mas não..



   Eu tive o azar de aparecer por lá, exatamente depois que a prefeitura fez uma dessas “limpas” e retirou tudo de lá..a ponte estava lisinha, sem os famosos cadeados...nãaaaaao, não pode ser!!!



   A Ponte Milvio, por um instante, sem aqueles cadeados, me pareceu meio “pelada”, desprovida de charme...somente uma ponte antiga e velha, de onde se sussurram histórias perdidas...


    Cadeados mesmo, você só via aqui e ali, no detalhe....era precisa prestar bem atenção para achar um cadeadozinho por ali...



     Não, os misteriosos cadeados da Ponte Milvio não estavam lá. E por mais que eu soubesse que de vez em quando eles limpam tudo, que logo os cadeados iriam brotar novamente ao longo da ponte, não deixou de ser um pouco esquisito (e decepcionante, é verdade) ver aquela ponte assim, com um cadeadozinho aqui, outro ali, tudo muito muchocho... (até em cima da Ponte Vecchio em Florença eu vi mais cadeados que na célebre Ponte Milvio)...Por um momento eu pensei comigo..: "Será que estou no lugar certo? Será que o amor dos casais morreu e ninguém mais coloca cadeados ali?"

    Se você não presta atenção nos lampiões, nem repararia que lá no alto, tem uns cadeadozinhos....Mas mesmo assim, é bem diferente daqueles lampiões abarrotados de correntes e cadeados que eu já havia visto em fotos..






    Mas, tirando o susto e a decepção inicial, eu me pus a andar pela ponte...olhar os grafitis espalhados pela ponte inteira. Subitamente comecei a mudar a expressão fechada..

  Aos poucos, você começa a ler os recadinhos, promessas de amor, coraçãozinhos, nomes...percebe quantas vidas não estão ali, quantas histórias, quantas histórias felizes que deram certo ou tornaram-se em decepção, mas assim é a vida, não é? Ás vezes dá certo, às vezes não...quem sabe o que aconteceu?

  Eu queria saber no que deu, cada pedaçinho de biografia amorosa, cada fragmento de uma história de vida, que eu encontrei ali...






    Tudo está registrado ali, cada pichacaçãozinha, cada grafitti, cada declaração de amor, faz parte de um momento ínfimo de uma história de um casal...de duas pessoas que se amam. É emocionante percorrer toda a ponte, e ir vendo e admirando aqueles graffitis, já meio apagados, um pequeno compêndio de Histórias de Amor, presentes, passadas e ainda por vir... Foi assim que eu percebi, mesmo naquele dia frio, melancólico, chuvoso; mesmo que aquela ponte esteja vazia, sem nenhum casalzinho romântico (seria estranho que isso acontecesse às 9 horas da manhã?), aquela ainda era, a ponte mais romântica do mundo...


    Naquele instante, parado em cima da Ponte Milvio, com o vento gelado na face, eu fui acometido por um pensamento: se a Ponte Milvio nos emociona, mesmo no dia mais feio e cinzento, mesmo que ela esteja praticamente "pelada" de cadeados, é porque ela é algo muito importante na vida de duas pessoas que se dispuseram a ir até o cú do caralho para jurar o seu amor...Se a Ponte Milvio é a mais romântica de todas é porque ela já assistiu a diversas juras e declarações de amor, naquele momento mais sincero de todos: é aquela hora que alguém agradece a outra pessoa, por entrar em sua vida e fazer parte dela...



   Não tem como explicar, mas assim como lugares lúbugres contém uma carga negativa, a Ponte Milvio também é assim, capaz de emanar luz e confiança e bons sentimentos até nos dias mais fechados e cinzentos.. A Ponte Milvio é um desses lugares especiais...até quem não está apaixonado(a) vai lá dar uma bizóiada...


   Não pude deixar de pensar em como seria aquele lugar no finalzinho da tarde, num dia quente e ensolarado..muito antes daqueles homens, com seus corações empedernidos,   sem compaixão, sem amor no corção, com seus alicates e suas ferramentas, levarem tudo para longe dali....

Ah, ai sim haveria casais apaixonados, cadeados sendo colocados, e o clic dos cadeados ressoando às margens do Rio Tibre..  uma cena linda de se ver...



   Quase na hora de ir embora, um casal, já não tão jovem (acima dos 30 supostamente) apareceu por lá..eles pareceram não ligar pra nada ao seu redor...e por um átimo, eu consegui vislumbrar o que esta ponte representa para pessoas apaixonadas...

   Tudo estava feio ali, nublado,...mas era só olhar para eles que a felicidade estava estampada em seus rostos... Seria aquele momento poético, como na música da Deolinda em que um simples olhar enche o mundo de esperança e faz tudo ficar bonito. Diz ela,  "de um esgoto empestado saiu perfumado, um rio de nenúfares em flor..."






    Mas ali, naquele dia, nada haver...Parecia tudo tão desencaixado, fora dos eixos, fora do lugar...era melhor eu ir embora.

  Foi um momento com sentimentos conflitantes. A decepção de ver a suposta ponte mais romântica do mundo no meio de um frio de rachar e uma chuvinha gelada, sem casal nenhum, sem cadeados...misturada com o desejo de ficar ali em Roma por mais um tempo...Ali, um pouco triste, eu me despedi de Roma...



    Nos meus últimos instantes em Roma, na última manhã, eu fui conhecer a Ponte Milvio, e ela era muito diferente do que eu pensava, naquele dia, naquele momento, nada havia de romântico naquele lugar...Mas Roma foi assim, quando eu cheguei lá, ela me recebeu com um Céu Azulzinho Infinito...e dias quentes e maravilhosas. Mas nunca subestime Roma, ela é uma velha senhora de temperamente forte. 
    Logo no último dia, quando eu já estava triste por ir embora, Roma me brindou com um aguaceiro e uma chuva do caralho...não foi nada elegante minha despedida de Roma, estava chovendo, estava frio, mas mesmo assim, nem por isso eu gosto menos de Roma...Arrivederci, Roma! Minha viagem (e meus posts sobre a Itália) estão chegando ao fim.






Um outro olhar sobre Roma: Il Buco di Roma



   Olhar pela fechadura....algo que na maioria dos casos é considerado uma indiscrição... num certo lugar em Roma, pelo contrário, é uma prática tolerada e até, de certa forma, incentivada..!!!

   Trata-se do buraco de fechadura mais simpático do mundo - carinhosamente chamado de Il Buco di Roma, que encontra-se na Piazza dei Cavalieri di Malta - à poucos metros do Giardino degli Aranci, no alto do Monte Aventino....

Para se chegar lá, eu já expliquei boa parte do trajeto no post anterior... Ou você sai do Circo Massimo e vai subindo pelo Clivo dei Publici, ou pegando a Lugotevere Aventino, você sobe pela Clivo di Rocca Savella.



 De qualquer forma, ali do Giardino degli Aranci fica fácil, é só seguir pela Via di Santa Sabina, e você estará, na Piazza dei Cavalieri di Malta...O caminho é muito bonito e arborizado...







Pronto, você vai estar na Piazza dei Cavalieri di Malta..

Não vou nem falar sobre essa praça..porque não tem nada nela...é um lugar deserto...



E instintivamente você vai se direcionando para um grande portão....



Ali naquele portão da Vila do Priorado de Malta...solenemente fechado (sempre), está a famosa fechadura...







E o que essa fechadura tem de especial??...

É que se você olhar por aquele buraco...exatamente ali...você vai ter uma outra visão sobre Roma...





    Lá, no meio daquele buraco, você enxerga exatamente a cúpula da Basílica di San Pietro...

    Colocando o "zóião" ali na fechadura, a cupulonne (como os romanos chamam a cúpula da basílica) aparece ali, diante de seus olhos, como uma mágica...

   Tá certo, é muito difícil conseguir bater uma foto perfeita, focalizar a basílica...Quando você vê à olho nú, a cúpula aparece ali..perfeitinha..parece que você tá olhando num lente....


Mas conseguir tirar uma foto perfeita é uma outra história....Por enquanto, este humilde fotógrafo amador só conseguiu tirar a foto da visão que se tem do buraco da fechadura assim...tremida e embaçada...



     Apesar de uma caminhada no Monte Aventino ser bem tranquila e você faça o caminho a maior parte sozinho...Lá perto da Piazza dei Cavalieri di Malta sempre tem uma aglomeraçãozinha...Todo mundo em fila para dar uma olhadinha indiscreta....

Piazza Cavalieri di Malta


   Pode ser que altas horas...até mesmo perto da meia noite, tenha gente por lá...

É uma coisa meio pueril, sem relevância alguma...Mas é legal saber que alguém imaginou que exatamente ali, colocando o olho num buraco de fechadura, você iria ter uma vista perfeita da cúpula da Basílica di San Pietro....
E só por causa dessa brincadeira, dezenas de pessoas sobem as ruazinhas íngremes e arborizadas do Aventino...só para olhar Roma, de outra maneira..através do buraco da fechadura!!!





sábado, 22 de dezembro de 2012

Um passeio pelo Aventino:o Giardino degli Aranci











UMA BELÍSSIMA VISTA DE ROMA...DO ALTO DO AVENTINO

     Quem acha que Roma é só barulho, bagunça e desorganização...vai se surpreender que exista nesta cidade, a poucos minutos do centro, um lugar tão tranquilo que pode ser chamado de “O Jardim das Laranjas” (Giardino degli Aranci)...



Esse jardim, que na verdade fica dentro de um parque, o Parco Savello..., tem uma das vistas mais incríveis de Roma...

É para lá que eu iria, se estivesse perto do por-do-sol....






    Lá de cima, do monte Aventino, você tem uma visão limpinha, perfeita, da cúpula da Basílica di San Pietro, do alto do Vittoriano, e do Rio Tibre, dobrando vagarosamente na entrada de Roma...

   E ali, pertinho, na Piazza dei Cavalieri di Malta, você pode ter outra surpresa...mas isto fica para o próximo post...

   É impressionante você imaginar que ali, naquele pedacinho de Roma, escondidinho, existe uma área verde imensa, de mais de 7 mil m²







    E apesar de ser um local ainda pouco conhecido de muitos turistas, o legal é que este local é totalmente gratuito, aberto ao público. ..



   É um lugar excelente para se passar um final de tarde, ou para se despedir de Roma (como eu fiz) nos seus últimos momentos, seu coração acelera...

   Esta imensa área foi construída no local onde havia um castelo medieval, o Castelo Da Savello, no século XIII. Ali, no Parco Savello, em 1932, Rafaelle Da Vico constrói um imenso jardim...que ficou conhecido Giardino degli Aranci...

    Assim...quem quer visitar Roma, mas está afim de alguns minutos de sossego; quem quer ir para um local que não está infestado de turistas ou quem quer passar um momento romanticozinho com seu "amor" ,  pode fazer o que eu fiz...faça uma caminhada no Monte Aventino.  Tem uma subidinha, sim. Mas lá do alto, a vista compensa...

     




   Com certeza, ele não é tão badalado como o Capitolino ou o Palatino, ele está ali, discretíssimo, numa enorme área residencial....Você vai se deliciar com uma maravilhosa caminhada (mesmo que íngreme), ao redor do monte, visitando suas ruazinhas tranquilas e de repente, deparando-se com um lugar maravilhoso como este, um verdadeiro “jardim (quase) secreto”...

COMO CHEGAR AO GIARDINO DEI ARANCI..

   Para se chegar ao Monte Aventino, só a pé...O melhor deste roteiro é fazer tudo a pé...colocando-se em movimento e olhando as coisas pelo caminho.
Começa-se ali, pertinho da Igreja Santa Maria in Cosmedin, onde está a Bocca della Veritá, ou do Circo Massimo....você está na boca do Aventino...

    Eu recomendo partir de perto da Ponte Palatino...ande na direção contrária a Isola Tiberina..afaste-se da Igreja de Santa Maria in Cosmedin...vá como se estivesse indo em direção às altas silhuetas da igreja de Santa Cecília no Trastevere, só que do outro lado do Rio...

(você também pode fazer outro caminho, começando com um dos cantos do Circo Massimo, um pouco antes de chegar na Igreja Santa Maria in Cosmedin...subindo um caminho  chamado Clivo dei Publici e indo até a Via di Santa Sabina)



Pegando a Lungotevere Aventino , (Lungotevere são aquelas rotas que se estedem às margens do Tibre) você vai parar numa estradinha bem charmosa, que te leva por um caminho tortuoso até o parte mais alta do Aventino, é o Clivo di Rocca Savella....



O caminho pelo Clívio di Rocca Savella é muito agradável...você vai subindo...ouvindo os próprios passos, pensando na vida....




De repente, você está no alto do Monte Aventino...

 

Caminhando por ali, dá pra perceber o que parece ser as mulhalhas do antigo Castelo Da Savello...




Por esta trilha, você sai exatamente do lado do Parco Savello...



E você vê que está mesmo fora do itinerário dos pontos turísticos de Roma...porque quase todo esse caminho é feito solitariamente, você sabe que está no lugar certo, porque reconhece aqui e ali, algum turista....

Mas a entrada mesmo fica escondidinha...Logo na entrada, você vê uma belíssima fonte, que lembra um pouco a Bocca della Verità...





Aí, você passa pelos portões...é um clima muito gostoso, você vê lá principalmente famílias com crianças, e casaizinhos... 



(obviamente, o Giardino degli Aranci, assim como o Parco Virgiliano em Nápoles, é um daqueles  locais manjadões onde os noivos gostam de tirar suas fotinhas pro álbum de casamento)




 E então, você já começa a relaxar, observando aquelas árvores imensas...e um jardim que realmente faz jus ao nome...na época certa, este lugar fica carregado de laranjas madurinhas....





Corteccia e Buccia (Matt Jardine) Tags: park italy orange parco rome roma tree grass tangerine italia grove hill bark peel clementine lazio corteccia aventino aventine latium buccia savello

Mas não tem coisa melhor do que você reconhecer a cúpula da Basílica di San Pietro lá no fundo...uma visão limpinha, perfeita, livre de prédios ou obstáculos....


Primeiro você a vê...lá no finzinho de uma trilha de árvores...



Depois vai chegando mais perto.....e vendo a cúpula crescer....diante de seus olhos...




   E há um momento em que a visão da cúpula fica perfeita...talvez até mais bonita do que da própria margem do mirante... É como o famoso "canto das sereias" que não passa de uma promessa de um canto e vai se desvanescendo na medida em que nos aproximando...

   Ninguém resiste, ali, sentado no banquinho, com Roma inteira se abrindo diante dos seus olhos, aquele céu infinito, aberto....é uma sensação incrível..

    Essa é aquela hora solene, em que você pensa quão maravilhoso é estar ali..em Roma...(desculpem, é muito mais difícil descrever emoções do que coisas ou lugares..hehehe)

   Aqui, no alto do Monte Aventino, eu passei algumas das minhas últimas horas na Cidade Eterna...não sei porque, mas fiquei emocionado naquele instante...senti as lágrimas vindo,  como se passasse um filme na minha cabeça....foram dias tão felizes, tão inesquecíveis (eu passei meses tentando escrever sobre coisas que eu só vi durante algumas horas, alguns minutos, mas que tiveram para mim, o peso de toda uma vida em emoção...)





Lá do alto do Monte Aventino, cercado de uma atmosfera única, você tem uma vista muito bela da Cidade Eterna...




Você consegue ver o Vittoriano...


O Rio Tibre...


E principalmente, a cúpula da Basílica di San Pietro...que é o que mais chama a atenção...



   E eu já disso isso uma vez, há dois três anos, quando estive em Paris...há lugares que nem estão nos cartões postais, mas que dão uma satisfação imensa, simplesmente por você estar ali...
     De repente, você pára num banco, senta num jardim, e põe-se a sonhar...É aquela hora que você vislumbra a cidade, no seu detalhe mais ínfimo, naquele imenso caleidoscópio...é só ali, nesses pequenos momentos, em que a cidade se abre para você, para além daqueles cartões postais que você só vê pelas fotos, distantes...são nesses minúsculos momentos que você tem a experiência da viagem...a sua experiência...

   Eu visitei o Giardino degli Aranci um dia antes de vir embora para o Brasil...Ali, vislumbrando aquela vista linda de Roma a Céu Aberto...tive aquele pensamento que todo mundo tem, quando se está ali (que não nos acomete apenas ali, diante da Fontana de Trevi, mas em outros lugares, como o próprio Giardino degli Aranci) ..."que cidade tesão, não tem jeito, eu ainda quero voltar aqui pelo menos mais uma vez na vida"...