Este é um texto que só deve ser
escrito na hora última, no meio da
noite, no silêncio... é um texto mesmo com gostinho de comida requentada,
aquele clima de fim de festa...
Para mim, essa hora lembra um pouco aquelas cenas de um quadro de Georges de La Tour, quando alguém se vê no quarto, no meio da noite, sozinho contemplando a luz ululante de uma vela. É nesta hora que me ponho a escrever, pensando no tema "o que eu fiz durante aqueles dias?".
VERSURA
Não me proponho a ir direto à questão, mas degustá-la aos poucos, como alguém que a domina pela rama...
Para mim, essa hora lembra um pouco aquelas cenas de um quadro de Georges de La Tour, quando alguém se vê no quarto, no meio da noite, sozinho contemplando a luz ululante de uma vela. É nesta hora que me ponho a escrever, pensando no tema "o que eu fiz durante aqueles dias?".
VERSURA
Não me proponho a ir direto à questão, mas degustá-la aos poucos, como alguém que a domina pela rama...
Sim, eu escrevo este texto quase
um ano após a viagem a Itália (os primeiros posts, é claro, foram escritos nos
primeiros momentos após o retorno, quando tudo ainda estava vivo na memória).
Durante o tempo de escrita e desenvolvimento deste conjunto de posts que
relatam minha viagem à Italia em setembro de 2012, eu fui levado pelo sabor das imagens e
lembranças, como quem anda ao léu, com as mãos nos bolsos. Eu visitei e
revistei a Itália em minha imaginação...fui quase levado à distorcê-la para que
o turbilhão de emoções e sensações que eu vivi lá, naqueles dias felizes,
pudesse ser exprimida em palavras...
Se eu
escrevo tardiamente este post de despedida, não é porque me faltou fôlego ou
imaginação – é como se ao prolongar minhas lembranças e tentar passar tudo no
papel, em sucessivos momentos de escrita, eu quisesse prolongar eternamente um
momento... Mas se eu não me despedisse desse instante, cairia numa recapituação
absoluta do mesmo instante sobre si mesmo – como Issião no Hades, que faz girar
a roda para todo o sempre, ou as Danaides que carregam inutilmente aquele vaso
furado. É preciso ultrapassar esse instante...
Chego
enfim, neste momento, naquele ponto que os romanos chamavam de versura – é
quando o arado dá uma volta sobre si mesmo e deixa um sulco na terra ... e
neste instante, por um átimo, um segundo, é possível contemplar o próprio
rastro... O post de despedida é, portanto, um momento em que eu posso dar meu
último olhar sobre o caminho trilhado..antes de seguir em frente...
Neste
último post, vou resumir brevemente os lugares em que eu estive na Itália. Se
você chegou neste post, por acaso, eu o convido a ler inteiramente a narrativa,
desde o post inicial... que é um percurso que tenta mesmo que de forma
articificial, seguir uma certa “ordem cronológica”...
Vou
falar brevemente de cada parte e do que mais me chamou a atenção em cada uma
delas....
MILÃO
Nos
primeiros dias eu conheci Milão... Uma cidade linda, com seu charme discreto.
No centro, o Duomo, uma floresta de mármore, branquinha, de onde tudo flui...
Milão é a capital da moda, dos carros esportivos, lugar de gente milionária que
se pode dar ao luxo de sair com sacolas da Prada ou Dolce&Gabana como se
carregasse uma sacolinha do Mercadorama com meio quilo de carne moída...
Mas não
se engana quem acha que Milão é uma coisa de outro mundo, uma bolha em si...ela
tem um charme todo especial: por exemplo, no final da tarde os barzinhos se
enchem de gente jovem e bonita, cheia de alegria, pelos bairros mais famosos
como Brera e perto dos canais Navigli...
Milão também possui o Parco Sempione,
uma lindíssima área verde bem no centro da cidade...andando por Milão é
possível tomar um drink bem típico – o negrone – ou saborear o magnífico
panzeroti. E no começinho da noite, você pode se surpreender como eu – de
repente, uma banda começa a tocar no meio da rua . E ao cair da noite, Milão
nos cobre com uma chuvinha fina...deliciosa, que cai elegantemente e enche a
janela com gotículas ... e você ouve a chuvinha, enquanto o bonde passa na rua ao
lado...maravilhoso.
Parco Sempione - Milão |
Parco Sempione - Milão |
Via Dante - Milão (ao fundo o Castelo Sforzesco) |
VENEZA
Veneza é coisa de outro mundo e
bem ou mal, ou você ama ou odeia. Ela divide opiniões. De minha parte, Veneza
foi uma cidade cheia de surpresas, uma das que eu mais gostei (se é que se pode
escolher). Por mais que você olhe Veneza em vídeos e imagens, é impossível
descrever oque você sente ao ver aquelas gôndolas, taxis aquáticos, motoscafos
e outras gerinconças aquáticas andando por ai...é um mundo surreal. De repente,
no meio da noite, você para num canalzinho e fica olhando o luar...Veneza é uma
cidade com um clima feérico. Uma cidade para você soltar as rédeas e ir
ziguezagueando entre as calles (ruazinhas que sequer passam uma pessoa) e
canais... Isso sem contar na beleza e efervescência do Grande Canal que corta a
cidade em S como se fosse uma avenida ... além do clima inigualável que
encontramos na região do Rialto.. E se isso é pouco, que tal ficar maravilhado
com a Piazza San Marco... Veneza é tudo que imaginamos, e muito mais..
Ponte degli Scalzi - Veneza |
Veneza - próximo da Piazza di San Marco |
Grande Canal - Veneza |
FLORENÇA
E depois, eu conheci a Toscana.
Uma das regiões mais belas da Itália, cheia de encostas forradas de parreiras e
cipestre – e do trem, você avista aqui e ali, uma casinha campestre – uma mais
linda que a outra, um sonho... Suas
cidades medievais como Pisa, Lucca e San Gimingnano nos dão um sabor especial,
pois preservam quase intactas as construções e as muralhas da Idade Média –se
você gosta do estilo românico – esse é o lugar. Mas o que mais enche os olhos é
a sua capital, Florença – berço da cultura renascentista.
Que tal visitar e ver
de pertinho a imensa estátua de David de Michelângelo; a casa onde viveu Dante,
e O nascimento de Venus de Botticelli na Galeria Uffizi? Você pode ver tudo
isso em pouquíssimo tempo, pois a cidade é pequena e agradável. Isso sem contar
as belíssimas construções como o Giardino Boboli, a cripta dos Medici e é
claro, o Duomo.
Florença |
Lucca Muralhas
|
Piazza dei Miracole - Pisa
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NÁPOLES
Depois de tudo, veio o Caos.
Nápoles é a cidade mais suja, barulhenta, desorganizada e tudo que você puder
imaginar. Ela realmente tem partes feias, abandonadas. Mas quem leu os meus
posts sobre Nápoles sabe que eu gosto muito dela..na verdade, fiquei
apaixonado. Isso porque o povo napolitano é simpaticísssimo e lembra muito o
povo brasileiro. Por lá você não tem tempo feio ...eles te recebem de coração
aberto, e com uma simplicidade incrível.
Ah como é gostoso ouvir a risada de um napolitano em pleno mercado de
pignaseca, ou percorrer os labirintos de ruazinhas do centro histórico. Ou
mesmo reservar um dia para visitar os subterrâneos que preservam escondidos uma cidade
inteira...E pra quem gosta, pertinho pertinho, está a cidade de Pompéia..que
você pode visitar em uma manhã, saindo bem cedinho de Nápoles. A baía de
Nápoles é linda. De lá você consegue ver o Vesúvio.. Mas ao cair da noite, tome
um pouquinho de cuidado. Nápoles é uma cidade relativamente perigosa para os
padrões europeus. Mas a efervescência das ruas, a cultura, o seu modo de vida
peculiar, faz uma visita dessas valer a pena.
Nápoles - Quartieri Spagnoli
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ROMA
Enfim, Roma, que é um pouco de
tudo isso e que tem ao mesmo tempo, um dom muito especial Roma é como uma
senhora de personalidade forte...é como aquela senhora idosa que te puxa a
orelha mas mesmo assim você gosta dela. No começo, Roma me trouxe certa estranheza...pois eu cheguei lá logo após alguns dias de viagem bucólica pela Toscana, com paisagens lindas, tudo regado ao delicioso vinho chianti. E chegar em Roma, na região do Termini é um choque..aquela balbúrdia, aquela confusão e..ao contrário de outras cidadezinhas, lá ninguém sabe te informar onde está a rua do hotel, mesmo que esteja a poucos metros de onde você está (alguma semelhança com Curitiba, minha cidade, é pouca...). Mas depois que você pega o jeito, vai embora..
.E nossa, a primeira vez que você vê as coisas é incrível..."caraca, aqui é Fontana de Trevi, o Coliseu, a escadaria da Piazza di Spagna"... Roma é incrível, te deixa boquiaberto..nem tem palavras. O melhor ainda é que Roma tem muitas coisas que podem ser vistas no interior de uma igrejinha ou mesmo numa praça...coisas como a Fontana dei Quattro Fiume de Bernini, a estátua de Moisés, ou as inúmeras fontes que são verdadeiras obras de arte por exemplo, que estão muito acessíveis..e a própria Piazza di San Pietro, cheia de detalhes está lá, a céu aberto. Roma, é um museu ao ar livre...o que a torna muito mais saborosa de se visitar.
Roma é uma dessas cidades que você tem muita coisa pra fazer, muita mesma, e se você perde algo, não tem como ficar esperando (por exemplo, o dia que eu tinha planejado para conhecer a famosa Cinecittà, estava tudo em greve..não deu). No fim, depois de conhecer muito Roma, você pode se deliciar com visões panorâmicas como na cúpula da Basílica di San Pietro, ou no Giardino dei Aranci.
Roma é uma dessas cidades que você tem muita coisa pra fazer, muita mesma, e se você perde algo, não tem como ficar esperando (por exemplo, o dia que eu tinha planejado para conhecer a famosa Cinecittà, estava tudo em greve..não deu). No fim, depois de conhecer muito Roma, você pode se deliciar com visões panorâmicas como na cúpula da Basílica di San Pietro, ou no Giardino dei Aranci.
O que mais lembro de Roma eram aqueles dias ensolarados de céu aberto, parecia que o céu não tinha fim....
Roma- Piazza di Spagna
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Roma - Piazza Navona
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Campo di Fiori - Roma |
Vista do alto da Basilica di San Pietro |
No fim , acho que cada parte da Itália tem um colorido especial, cada cidade porque passei tem uma personalidade própria, lembro-me de cada uma com um carinho especial....
GRAZIE...
Em nenhum outro lugar, talvez, você ouve tanto a palavra Obrigado (Grazie) quanto na Itália...Tanto que acho que é uma das primeiras palavras que você incorpora no seu vocabulário, quando está por lá...Grazie. Este tom tão cordial, é uma marca típica do italiano...o povo italiano é muito informal e adora bater um papinho..não existem regras de cortesia, formas de polidez antes de se começar a conversar com alguém, a palavra simplesmente vai fluindo, você se sente em casa...
Pensando bem, se eu pudesse exprimir tudo que eu sinto, após essa viagem, o que vem na minha memória é uma das palavras que eu mais usei por lá: Grazie, Itália! Obrigado por tudo...
ARRIVERDERCI...
Chegando no final de uma jornada, só penso numa uma palavra - e ela é tão doce que parece uma promessa: Arrivederci.
Eu me lembro que a palavra que mais me incomodava pela sua sonoridade era o Ciao, eu me sentia totalmente deslocado ouvindo um belo ciao já na entrada de um estabelecimento ou ao ser atendido numa barraquinha...Pois ao contrário da palavra arriverderci, o ciao pode ser falado tanto na chegada quanto na despedida...significando tanto um "olá" como um "até logo". Ou seja, quando eles falam ciao na chegada, fudeu, embaralha tudo...pra nós que não estamos acostumados.
Não tem como, você demora para se tocar que eles não estão falando Tchau, o som é o mesmo, apesar do uso distinto que os italianos fazem! Mas na Itália, Ciao não é Tchau...ou nem sempre.
Eu me lembro que a palavra que mais me incomodava pela sua sonoridade era o Ciao, eu me sentia totalmente deslocado ouvindo um belo ciao já na entrada de um estabelecimento ou ao ser atendido numa barraquinha...Pois ao contrário da palavra arriverderci, o ciao pode ser falado tanto na chegada quanto na despedida...significando tanto um "olá" como um "até logo". Ou seja, quando eles falam ciao na chegada, fudeu, embaralha tudo...pra nós que não estamos acostumados.
Não tem como, você demora para se tocar que eles não estão falando Tchau, o som é o mesmo, apesar do uso distinto que os italianos fazem! Mas na Itália, Ciao não é Tchau...ou nem sempre.
Brincando um pouco com a sonoridade das palavras, sou mesmo tentado a pensar que a Itália transmite tanta cordialidade, que até a palavra de despedida é doce... Arrivederci sai da nossa boca como se fosse um algododão doce, flutuamos....
Sim, nem dá pra ficar triste de ir embora, seria injusto, a Itália, que me deu tanta felicidade, merece um sorriso no rosto, quando vamos embora, e apagamos as luzes....
QUANDO A LUZ SE APAGA...
Ah..aqueles últimos instantes, aquele aperto no coração...aquela saudade mesmo antes de ir embora..quem nunca sentiu isso, nos últimos minutos de uma viagem?
De repente, tinha acabado, estava acabando...malas feitas.
Primeiro, ir até o Termini e pegar o Leonardo Express que te leva direto para Fiumicino....
E quando o avião começou a subir...eu via Roma ali, toda estrelada, iluminada...imensa...
QUANDO A LUZ SE APAGA...
Ah..aqueles últimos instantes, aquele aperto no coração...aquela saudade mesmo antes de ir embora..quem nunca sentiu isso, nos últimos minutos de uma viagem?
De repente, tinha acabado, estava acabando...malas feitas.
Primeiro, ir até o Termini e pegar o Leonardo Express que te leva direto para Fiumicino....
Check-in feito...não tem mais jeito, agora é hora de ir embora...preparar o coração, pra voltar.....
Não sei, parece que aqueles poucos dias, mudam a gente pra sempre, quando voltamos, nunca mais vai ser a mesma coisa...Parece que enquanto aguardamos o vôo de volta, um filme passa em nossa cabeça...um turbilhão de emoções.
Ah...aqueles passos finais, a caminho do avião....que tristeza, que vontade de dar meia volta e sair correndo....
E quando o avião começou a subir...eu via Roma ali, toda estrelada, iluminada...imensa...
Então encerro aqui meu último post sobre a Itália e com isso, fecho essa narrativa...esse ciclo.
Que o final de uma viagem seja apenas o início de outra, nada mais...Quando terminamos uma viagem, pensamos assim "pronto, não ha mais nada pra ver, já fiz tudo". Mas na verdade não é assim, a viagem nunca termina..ela só nos leva cada vez pra mais longe..., quando vemos algo durante o dia, queremos ver a noite, queremos ver no inverno o que vimos no verão, queremos sentir um gosto, uma cor, uma corrente de ar...a viagem recomeça, sempre...abrindo-se para novos devires.
Que venham outras viagens...
Que o final de uma viagem seja apenas o início de outra, nada mais...Quando terminamos uma viagem, pensamos assim "pronto, não ha mais nada pra ver, já fiz tudo". Mas na verdade não é assim, a viagem nunca termina..ela só nos leva cada vez pra mais longe..., quando vemos algo durante o dia, queremos ver a noite, queremos ver no inverno o que vimos no verão, queremos sentir um gosto, uma cor, uma corrente de ar...a viagem recomeça, sempre...abrindo-se para novos devires.
Que venham outras viagens...
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