O discreto charme de Milão

      

          Muita gente, como eu, chega em Milão já de passagem, à caminho de outra cidade como Veneza ou Florença. Milão é uma espécie de porta de entrada para quem chega pelo norte da Itália. Mas, ninguém parece ligar muito para esta cidade, ela parece meio desprovida de atrativos, meio fria, sem aquele "sangue quente" italiano. Quando me sugeriram começar o meu roteiro por Milão, disseram: chegue em Milão e já vá direto para Veneza (na verdade, depois descobri que é mais fácil, estando na Europa, ir direto para o aeroporto de Veneza, se for assim...). - Mas Milão não tem nada? - Nada. (ponto).

         Dizem, então, que Milão não tem nada para ser visto. Nada para fazer. Mas muito se engana quem acaba caindo nessa. Em meu planejamento, acabei descobrindo uma porção de coisas legais que eu queria fazer em Milão...e olha, no fim, até faltou tempo, não fiz tudo, não.

         Milão é a única cidade da Itália, talvez, em que você vai ver mais italiano do que turistas. Milão não é invadida por aquelas hordas de turistas, com suas câmeras, etc. 

E pode ver...até o city tour não está lá tão lotado (numa tarde quente como estava, em outra cidade, certamente o andar de cima estaria abarrotado de turista...)

            Decididamente Milão é diferente.  Em Milão, você não esbarra com  a História à ceu aberto, como em Roma; ela não tem o mesmo  romantismo de Veneza, a exuberância da paisagem da Toscana ou a efervescência das ruas de Nápoles. O difícil mesmo é saber o que Milão é.. 
       Ao contrário, mais perto de Lyon e da Suiça, o estilo de vida de Milão é muito mais discreto, mais tranquilo.
        Em Milão você respira um certo ar de serenidade. ..parece que ela está ali, para quem quer descobrir os seus cantinhos.

   

       O único problema de Milão é estar no meio de um emaranhado de intenções. Você chega na Itália com outras prioridades, você quer ver os canais de Veneza, a torre de Pisa, os quadros da Galeria Uffizi, a Capela Sistina. E Milão, o que ela tem à oferecer? 

        Certamente, o Duomo de Milão, com aquelas agulhas brancas, é um da das catedrais mais bonitas da Itália. Mas ela, por si só, não é motivo para compelir alguém a se deslocar até lá. Depois, tem a Ùltima Ceia de Leonardo da Vinci. Sim, uma das obras mais importantes do Renascimento encontra-se num convento (Santa Maria delle Grazie) em Milão. Mas o processo para conseguir um ticket é tão complicado e burocrático que torna quase impossível que um turista desavisado simplesmente vá na bilheteria e consiga entrar. (eu tive sorte de conseguir os ingressos super-disputados, comprando-os 3 meses antes na internet)

       Na minha opinião, você só começa a gostar de Milão, quando começa a parar de querer compará-la com outra cidade. Você só a acha interessante se você começa a se perguntar: mas o que tem de interessante para fazer aqui? Aí sim, você vai começar a prestar mais atenção no que Milão realmente tem para oferecer. 

      Milão, é uma cidade que tem certo charme. Não é aquele charme arrebatador, como de Paris. O seu charme é mais discreto. É andando ali, na Via Dante, caminhando entre o Castelo Sforzesco e o Duomo. Ou sentado na grama do Parco Sempione, ou tomando um aperitivi na região do Navigli, ou ficar sentado na tranquila Piazza della Scala, olhando para a estátua de Leonardo da Vinci, que você vai sentir o gostinho do que é estar em Milão. 

    Você pode se surpreender...
De noite, o centro de Milão fica cheio. principalmente em frente ao Duomo, seu principal cartão postal:

Depois de dar aquela carimbada no Duomo, você começa a andar por Milão, admirando aquele ar meio aristocrático decadente da Galeria Vittorio Emanuele, um lugar realmente bonito:

No Parco Sempione, de tardezinha, você vai ver as pessoas caminhando, fazendo um cooper, tomando sorvete, jogando basquete nas quadras lá no fundo, andando de bicicleta,  ou simplesmente deitado na grama,

E de noitezinha, ao lado da Colonne di San Lorenzo, os jovens começam a se aglomerar, para bater aquele papinho, aquela azaração, ou tomar uns gorós....aquelas "coisas de jovem"....hehehe:

Mas se você é "chique no úrtimo", pode dar um pulinho naquele nicho entre a  Via Monte Napoleone,  Corso Venezia a Via Manzoni e a  Via della Spiga, onde encontram-se o endereço das grandes lojas como Channel, Dolce&Gabbana, Dior, etc. Esse lugar, é conhecido como Quadrilátero da Moda. O endereço mais chic de Milão.

E que tal uma loja original da FERRARI em pleno centro de Milão, pra você ficar babando naquelas máquinas potentes?...







Os bares de Milão também ficam lotados de noite. Em Milão, costuma-se fazer aquela dobradinha compra um drink e buffet de aperitivos à vontade: alguns bares como o Obika, Maghenta, Da Claudio, Bar Basso e outros são conhecidos por isso. Você pode sentar, e pedir um negroni, um drink feito de Campari, rodelas de laranja e gim. Afinal, Milão é a "cidade dos aperitivi":



E no finalzinho da tarde, também, a região do Navigli, ou seja, onde estão os canais de Milão, também é uma opção cheia de barzinhos e restaurantes:





 E se você gosta de Cultura, o bairro de Brera é cheio de lugarzinhos assim... como  a Pinacoteca de Brera, que contém um imenso acervo de obras renascentistas:

Andando a noite, você pode encontrar numa ruazinha ao lado do Duomo, um grupo assistindo à uma banda, tocando no meio da rua..e a música era boa!



E que tal fazer um footing pelo Corso Vittorio Emanuele II à noitezinha?

 
Ou tomar um cafézinho ou um vinho no último andar da loja LaRinascente, saboreando a vista para o Duomo:

E até na arte, Milão tem para todos os gostos.
Se você gosta de obras renascentistas, a Pinacoteca de Brera tem um imenso acervo de Carravagio, Tintoreto, Rafael Sanzio, etc

O beijo - Franceso Hayez (acervo: Pinacoteca de Brera)

Mas lembre-se que Milão também foi o berço do movimento futurista...No Corso Venezia, número 25, você vai ver uma placa onde ficava a casa de Filippo Tommaso Marinetti, um dos inciadores do movimento.

      E sabe, em Milão, eu quase me senti em casa, até aquela chuvinha fina e gelada, que eu estou acostumado aqui em Curitiba, estava caindo pela manhã....Mas até a chuva foi mais gostosa em Milão: em Roma eu tomei uma chuvarada daquelas no meio de uma visita ao Palatino. Em Milão, a chuva veio de noitezinha, só pra refrescar...como se viesse para acalentar o sonho. E de manhanzinha ela começou fininha e foi se dissipando.....E o que eu digo é que, cidades bonitas ficam também bonitas sob a chuva....

   
 O que eu acho interessante em Milão é que ela é muito democrática: ela pode tanto ser uma lugar caríssimo e chique como quando você anda pela Via Monte Napoleone, o Corso Venezia,  visita as lojas (ou melhor, olha as vitrines) da Dolce&Gabanna e Channel, ou da  Ferrari, etc - mas também pode ser um lugar que dá pra fazer muita coisa ao ar livre, ou sem pagar nada, como uma visita ao Duomo, a Gallleria Vittorio Emanuele, andar pelas ruas de Brera ou no Navigli, ou ficar sem fazer nada no Parco Sempione, etc.. Tem um pouco de Milão, que vai mudando, segundo o que você procura nela. Há opções para todos os gostos..e bolsos!

Mas se tudo isso não te sensibilizou. Milão não está nem ai. Ela continua lá, para quem quiser visitá-la.

Você pode dizer oque quiser, mas naquele dia, indo dormir, já na Itália, eu me senti bem por estar em Milão...e me sentia cheio de alegria e expectativa por uma viagem que ia começar, o que estaria me esperando pela frente?
Milão foi uma cidade que me recebeu muito bem...de forma discreta, como ela sabe ser. 

Ah, como foi doce aquela chuvinha caindo na janela..e o barulho do trem de superfície...

      Então o que eu digo é que se você não gostou de Milão, o "santo não bateu", ela não conquistou você de cara, dê ao menos mais uma chance à ela; não a risque do seu mapinha....Milão merece uma visita.