terça-feira, 16 de outubro de 2012

Florença e o Grande Tour














    O MOCHILÃO DO SÉCULO XIX - O QUE ERA O GRAND TOUR?

    Florença tornou-se um dos roteiros preferidos de um tipo específico de viagem: o Grand Tour, que ficou muito conhecido entre o final do século XVIII e início do século XIX. Era uma viagem feita sobretudo pelos filhos da aristocracia e da burguesia endinheirada. Era uma espécie de viagem de “formação” ou “viagem cognitiva”.
     Diferentemente dos grandes viajantes do século XVII e século XVIII que participaram de viagems científicas e exploratórias a terras distantes, o destino preferido dos touristas era a Europa. Especificamente algumas partes da Europa, como o norte da Itália, algumas regiões da França e da Alemanha. O objetivo do Grand Tour era fazer parte do processo de formação do jovem, era uma viagem que aguçava os sentidos, onde se tomava o contato com outros povos, outras culturas e aprendia-se outra língua.  

    Resumindo: o Grand Tour era uma espécie de “mochilão dos séculos XVIII e XIX”..Coisa do "garotão cabeludo e rebelde" daquela época....


Edward Austen
John Chetwynd



    Embora desde as Navegações, e muito antes disso, os europeus já tenham uma quedinha por viagens (talvez Marco Polo, que acalentou o sonho de toda uma geração, que queria pegar sua  trouxa de roupa nas costas  desbravar territórios ainda desconhecidos como a Rota da Seda, tenha contribuído vastamente para esta tradição).  
   Mas, um fato é evidente: os europeus viajam bastante, eles realmente tem isso no sangue....e aos poucos foram construindo até uma certa tradição ou estilo literário que pod emos chamar, genericamente, de “Literatura de Viagem”.



   Embora existam vários registos de viagem, com objetivos heterogêneos, lentamente começam a surgir uma figura nova: a do “turista”, que se distancia doa viagem exploratória, da missão científica, da rota do mercador, ou da peregrinação religiosa. O deslocamento do turista não se deve a uma força exterior, mas é movida unicamente por critérios subjetivos:  é aquele que quer ver uma paisagem, um quadro, aquele que quer aprender História, não através de livros, mas visitando escombros e ruínas, aquele que quer olhar um quadro ao vivo, e sentir a emoção aflorar...o Grand Tour dos séc.XVIII e XIX antecedem em quase um século a tradição que conhecemos hoje...

    As sementes do Grand Tour já poderiam ser encontradas no século XVII. Em 1611, o viajante inglês Thomas Coriat fez uma longa viagem pela Itália e registrou tudo na obra conhecida como “Coriat Crudities”.  




      Mais tarde, em 1670, outro ingles Richard Lassels andou pisando em terras italianas e escreveu um registro chamado de “The Voyage of Italy”. Atribui-se a Lassels a expressão Grand Tour, ou seja, aquele que sai para passear, dar a volta ao mundo, sem um objetivo específico, que não seja outro senão um critério que faz sentido para ele mesmo, uma viagem nem tanto ao desconhecido, mas ao que está mais próximo de seu coração. 



Frontispício de "Voyage of Italy" de Richard Lassels - teria sido ele o primeiro a  utilizar o termo "Grand Tour"



    O interesse dos touristas do século XVIII e XIX concentravam-se sobretudo na Arquitetura, História e Arte. Eles visitavam museus, igrejas, bibliotecas, galerias, etc. Muitos deles eram recém-formados em Universidades como Oxford, Cambridge ou Sorbonne e ganhavam como presente uma bela viagem...Viajar era uma espécie de etapa de alargamento dos conhecimentos, era visto como uma etapa necessária para sair do teórico e desbravar o mundo real...ganhar experiência. Lembre-se que o Grand Tour sempre foi uma viagem de formação...uma busca por conhecimento, cultura, mas também uma busca por auto-conhecimento.
    A popularização do Grand Tour ocorreu com a Revolução Industrial. Nesta época, os industriais, que enriqueceram, podiam dar aos seus filhos uma formação melhor. O Grand Tour praticamente estava incorporado como prática universitária e acadêmica, era uma etapa que se cumpria como uma parte do enriquecimento do curriculum. Um cara que queria seguir sua vida acadêmica, tinha que ter na sua bagagem pelo menos uma grande viagem. 



    Os britânicos principalmente, escolhiam o norte da Itália. Edward Gibbon, um historiador inglês, que no século XIX escreveu “Ascensão e Queda do Império Romano”, não por acaso interessou por Roma. Ele foi um daqueles que fizeram uma viagem, após completar o período de estudos acadêmicos. Gibbons dizia que “a viagem ao exterior completa a formação do cavalheiro inglês”. Ou seja, o Grand Tour a essa época, já era quase uma instituição.



    O legal é que como você deve imaginar, no início o Grand Tour era uma coisa de gente rica, da aristocracia, que aos poucos foi ganhando espaço entre os jovens filhos de industriais. Mas no século XIX, o Grand Tour já era tão popular que muitas universidades chegavam a bancar a viagem de seus estudantes, é claro que naqueles casos onde havia um retorno interessante para a própria universidade. No século XIX, a própria rainha Vítória chegou a bancar algumas viagens de alguns filhos de seus súditos protegidos.

   Muitas famílias mais abastadas, preocupadas com que essa viagem descambasse para putaria e bebedeiras (os grandes touristas são geralmente rapazes entre 20 a 30 anos), enviavam um clérigo para orientar os estudos e alimentar a mente, dando o foco para o verdadeiro motivo da viagem: a formação. Esses acompanhantes dos grand touristas, geralmente mais velhos, eram chamados de “lider urso”.






    Os ingleses, levados em vento e polpa pelos resultados lucrativos da Revolução Industrial, foram os mais entusiastas desse tipo de viagem. Os grand touristas geralmente eram ingleses, embora a tradição fosse bastante ampla na Europa.





   Aos poucos, os roteiros do Grand Tour foram também tornando-se mais específicos. Alguns lugares como Florença, por exemplo, era ponto de passagem manjado dos grand touristas.
Com o tempo, o Grand Tour se estabeleceu, e os viajantes tinham em mente um roteiro bem específico. A rota do grand tourist geralmente começava na França, e incluia principalmente o norte da Itália, e algumas vezes seguia pela Alemanha. A viagem geralmente durava 1 ano ou talvez alguns meses a mais. Havia uma espécie de “pacote econômico”, para aqueles que não conseguiam bancar uma grande viagem para a França ou para o norte da Itália. Consistia na saída por Paris e que atravessava os Países Baixos. Mas este não era tão “tradicional” quanto o Grand Tour que ia da França para Itália e Alemanha. Claro, o caminho mais apropriado dependia muito do país de origem do grand tourist.




      Muitos dos grand touristas chegavam mesmo a fazer todo o seu percurso com recursos próprios, vencendo alguns quilômetros por dia. Atravessavam florestas, rios, e toda a sorte de intempéries. Para os touristas alemães, o melhor caminho era atravessar os Alpes. Já os britânicos saíam pelo Canal da Mancha de navio, chegavam ao norte da França, e de Paris seguiam para Lyon e de lá para o norte da Itália.
    É de se notar que no auge do Grand Tour ainda não haviam barcos a vapor, ou uma extensa malha ferroviária. Todo o trajeto era feito no lombo do cavalo ou em barcos a vela. Goethe, por exemplo, ficou preso várias semanas em Torbole, à caminho da Itália. Muitas vezes os touristas tinham que atravessar rios à pé, pois não havia pontes. Ou ficavam dias e dias seguidos num vilarejozinho esperando a tempestade passar. Quando se é um grand tourista não se pode ter o calendário apertado, as viagens demoram meses, e até anos.
  Mas acho que o legal dos touristas é que eles tinham muito desse espirito de abraçar a cultura local, sabe? Eles queriam vivenciar outros costumes, viver como vivem as pessoas de certos lugares, ir no mesmo lugar, comer do mesmo jeito, etc.
   Os touristas também eram grandes consumidores: eles iam nas óperas vestidos à rigor, frequentavam galerias de arte, e não raramente traziam para casa um artefatozinho original, um quadro renascentista, uma relíquia, um artefato arqueológico, etc.


POR QUÊ A ITÁLIA?


    O destino predileto dos Grand Touristas era a Itália. No Grand Tour clássico feito no final do século XVIII e início do século XIX, a Itália era o filé mignon da viagem. Mas por quê os touristas gostavam tanto da Itália? O motivo é simples. Os touristas encaravam a viagem como uma etapa da sua formação, muitas vezes eles eram bancados pela família, pela universidade e até pela coroa. A Itália tinha uma relação afetiva com esses estudantes. Muitos deles eram apaixonados por História, e principalmente sobre a época do Império Romano. Outros gostavam de obras do Renascimento. Então cidades como Florença, Veneza, Roma e Pompéia, tornaram-se destinos obrigatórios do Grand Tour.











  

FLORENÇA -  "A QUERIDINHA DO GRAND TOUR"






     Acho que nenhum lugar foi tão preferido pelos grand touristas que Florença. Para quem vinha do norte da Itália chegando por Lyon ou pelos Alpes, Florença era um dos grandes pontos de parada. Isto porque Florença tinha tudo que os grand touristas procuravam: galerias monumentais, obras de tirar o fôlego, uma vida social agitada, espetáculos, etc. 

     Na verdade qualquer grand tourista que se preze planejava sua viagem já contando que ia ficar lá em Florença por meses e meses. Boccaccio, Maquiavel, Michelangelo, Giotto...Florença tinha tanta coisa que emocionava até os mais experimentados turistas. Pra que então apressar-se para ver a Galeria Ufizzi num único dia se poderia voltar lá durante várias vezes..? Mais do que conhecer, esses viajantes queriam a imersão, aprofundar-se, aguçar os sentidos.
     Nenhuma cidade fez parte do imaginário do Grand Tour quanto Florença... ela era definitivamente a queridinha do Grand Tour!!! Todo mundo se derretia de amores por ela. Se Veneza era apreciada pela sua decadência e romantismo; Roma pela sua Antiguidade, e Nápoles pela boa comida e boa música; Florença era de longe, a mais amada de todos que faziam o Grand Tour.


     O ANIVERSÁRIO DE GOETHE

    Aos 37 anos, Goethe despirocou. Ao invés de chamar seus amigos para tomar uma boa cerveja alemã ou ir num puteiro da Baviera, ele queria mesmo é colocar a mochila nas costas e ganhar o mundo.
   Em 1786 então Goethe pegou suas coisas e viajou até a Itália. Deixou seu emprego como funcionário público e sua amazia Charlotte (as coisas não estavam tão bem assim, é verdade) e partiu para o mundo. Ele simplesmente entrou numa crise de identidade, crise existencial. Não avistou ninguém, não pediu demissão, não avisou a família, pegou suas coisas e sumiu. Na Itália, usou um pseudônimo, e foi assim que desbravou esse país entre 1786, sem ser reconhecido, pois à esta altura o seu nome como poeta já era proeminente.
    Goethe conheceu Verona, Veneza, seguiu para Roma e foi até Nápoles. Neste período descansou um pouco a cabeça e voltou-se para o desenho. Ficou admirado com as ruínas do Império Romano e pelas obras de Rafael. Neste período ele finalizou Egmont, uma obra que tinha começado dez anos antes.
    Depois de passar vários meses passeando, sem dar notícias, Goethe retorna para Weimar e reestabelece sua atividade como escritor. Digamos que a viagem ajudou Goethe a colocar sua cabeça no lugar, ele rejuveneceu e ganhou mais folego.
Goethe durante a sua viaggio pela Itália, dando um rolé sossegadão, não  avisou ninguém...


    Engraçado que Goethe tinha quase minha idade quando foi para a Itália, e o seu itinerário foi bem parecido como o meu. Como Goethe, eu planejei passar meu aniversário na Itália. No dia do meu aniversário eu viajei para Pompéia, (passei por Erculano, mas não parei), e de noite, de volta em Roma, fui naquele restaurante fodão, fiz uma bela refeição e fiquei curtindo a vida...isso não é maravilhoso?


Eu, no dia do meu aniversário em Roma, (eu entendo esses caras).

AS NÁUSEAS INCESSANTES DE STENDHAL

    Mas nem só de glamour vivem os grandes touristas.  Stendhal relata que em certos momentos, quando estava visitando a Basílica de Santa Croce em Florença, onde estão os túmulos de Michelangelo, Maquiavel, Dante Alighieri e Galileu Galilei, começou a sofrer fortes tonturas e náuseas. Em seu livro Florença e Nápoles, ele descreve que após esse momento,chegou num ponto em que havia visto tantos quadros, obras de arte, que parecia estar absorto por “sensações celestiais”...



Manuscrito de Stendhal durante sua viagem a Itália em 1811
   Engraçado, pois eu sempre achava que isso era viadagem do Stendhal. Mas como assim, ficar com tontura de ver quadrinho? Que bixisse!!!
   Mas eis que em 2010, eu estava visitando o Louvre, e após começar a ver centenas e centenas de obras de arte, estátuas, quadros, galerias, objetos de decoração, jóias, múmias, objetos mesopotâmios, afrescos..para onde se olhava havia uma obra (no teto, no chão, na parede)...e de repente, minha cabeça começou a girar....ah...agora eu entendi!!!
O caso de overdose de arte sofrido por Stendhal é relatado pela literatura médica, está comprovado que a pessoa com uma longa exposição contínua a obras de arte, começa a sofrer fortes sensações, convulsões, nauseas..um piripaque provocado pela beleza sublime de uma obra de arte..chamam isso de Sindrome de Stendhal...


BYRON ESTEVE AQUI


Outro tourist conhecido é Lord Byron.  Mas ao contrário dos viajantes que faziam a Grand Tour, Byron foi mais abrangente. Ele conheceu Portugal, Espanha, o Gibraltar, Malta, Albânia, Grécia, Turquia. Pode-se ver que ao contrário de outros tourists famosos, Byron pirou mais no Oriente, buscando um refúgio daquela sociedade européia. Ele partiu em 1809 e deixou uma carta para um amigo em tom de brincadeira, que estava prestes a partir e conhecer rudimentos de  "pederastia e sodomia" como os "autores antigos e modernos".



Byron fez grande parte de sua viagem acompanhado por um amigo, Robert Rushton. As experiências de sua viagem foram descritas no livro Childe Harold´s Pilgrimage (Peregrinação de Childe Harold)

Byron com Robert Rushton


Byron na Albânia
   Mas o curioso é que Byron gostava de deixar gravada a sua assinatura nos lugares porque passava. Você vai ver os atos de vandalismo de Byron em Delfos, no Templo de Poseidon, no Castelo de Chillon na Suíça e o caralho a 4, tipo como se quisesse dizer "Byron esteve aqui"...




       VER E DESCREVER

     Nesta época, não havia ainda fotografia. Então, os grandes registros documentados do Grand Tour são os livros, diários e cartas escritos pelos grand touristas. Memórias de um Turista de Stendhal é um exemplo clássico desse tipo  de viagem.
     Não faltaram exemplos de grandes artistas e pintores que ilustraram com maestria o sentimento dos lugares que visitaram. Giovanni Paolo Paninni e Salvatore Rosa fizeram quadros incríveis dos Alpes Suiços. Claude Lorrain, um pintor francês, também especializou-se em pintar ruínas, um dos grandes objetos de curiosidade dos touristas. O mais conhecido deles, talvez seja Giambattista Piranesi, que fez várias gravuras de prédios, construções, prisões, ruínas, etc. Um cara que ganhou muito dinheiro montando uma impressora e vendendo gravuras de obras da Roma Antiga.



Salvatore Rosa - pintores também participavam do Grand Tour, retratando belas paisagens da Europa


Giovanni Paolo Pannini - note que as ruínas antigas estavam em voga naquele momento


Aqueles que tinham alguma habilidade de pintar quadros faziam seus próprios retratos e auto-retratos, paisagens, etc para guardar de lembrança...


Mas existiam retratistas que se especializaram em pintar os grand touristas...




Como não havia fotografias, muitos touristas iam até ateliês e pediam para os pintores registrarem aqueles momentos especiais..As pinturas de grand touristas são muito legais, porque parece que eles tão fazendo aquela pose de "cara fodão", geralmente eles são retratados do lado de objetos de artes, estátuas, etc.


Pompeo Batoni, um pintor italiano, tinha um estúdio em Roma e durante anos recebeu esse tipo de clientela...Pode-se até dizer que ele especializou-se em pintar grand touristas, fazendo quadros que valorizavam o seu cliente e sua experiência. Um cara que tivesse viajado pela Itália ia gostar de ter uma pintura assim, todo posudo né?






















     Era comum também aqueles que tinham alguma habilidade com pintura, reproduzirem quadros conhecidos (por exemplo, obras renascentas) para venderem após o seu retorno. Numa época em que não havia fotografia, esses quadros copiados serviram para difundir várias obras de arte que se tornaram conhecidas pelo mundo todo.


gravura de Piranesi mostra as "igrejas gêmeas" em Roma
Viajantes diante da basílica de Sao Pedro - J.C Gubig

       ERCOLANO E POMPÉIA

      Foi na época em que o Grand Tour estava em voga que foram descobertas os vestígios arqueológicos de Pompéia e Ercolano, próximos da baía de Nápoles. Este fato chamou instantaneamente a atenção dos grand tourist. Apaixonados por História que eram, os touristas logo fizeram desse lugar uma passagem obrigatória.




Nesta época, o pintor inglês Joseph Wright pintou uma série de quadros incríveis sobre a trajédia de Pompéia, com base na sua visita as ruínas.
 O Império Romano exercia muito fascínio sobre esses jovens, que aprendiam apaixonadamente sobre História nos livros e se deliciavam com as visitas ao Coliseo e ao Foro Romano. O Museu Britânico e a Royal Society of London também interessavam-se cada vez mais pelas peças arqueológicas vindas da Itália, incentivando a busca por novos sítios arqueológicos.
   Mas os  touristas também queriam ter o gostinho de levar um souvenir para casa. Literalmente eles arrancavam partes de templos e construções romanas, pedaços de utensílios, tudo isso com a maior cara de pau, sem nenhum peso na consciência. Estátuas e utensílios domésticos com milhares de anos, simplesmente eram levados na mala e serviam como troféu ou recordação de uma grande aventura.


    EMOÇÃO-SENSAÇÃO


    É claro que visitar a Itália hoje em dia, não tem o mesmo espírito da viagem cognitíva do final do século XVIII e início do século XIX. O turismo em massa, que substituiu a busca pela formação pela exibição e o fetichismo mudou muito o sentido da palavra "turista" nos dias de hoje. O tourista era aquele que colocava a viagem como parte de um processo de conhecimento e auto-conhecimento, eram mochilões, mas tinham sua importância na formação intelectual e humana. Viagens eram sobretudo, o momento de aguçar os sentidos, aumentar a percepção das coisas, prestar atenção nos detalhes, nas cores, nos cheiros...



   Hoje em dia o esteriótipo do turista é exatamente a antítese da figura do grand tourista. O turista, tal qual o conhecemos hoje em dia é aquele cara espalhafatoso, que não se importa em mergulhar nos lugares e na cultura local, não busca conhecimento, mas apenas distração e lazer. É o que chega no outro país sem se preocupar em aprender uma meia dúzia de palavras do idioma local. É aquele, enfim, que quer viajar sem sair da sua zona de conforto.






 É todo o contrário do que os grand touristas procuravam. Esses caras colocavam a mochila nas costas e literalmente partiam para desbravar o mundo, não tinham medo de nada, metiam o peito mesmo, vamos embora!!


Eu acho que eu senti muito bem um pouco desse espírito do Grand Touristas, pelas próprias escolhas que eu fiz. Desde a minha primeira viajem, eu decidi viajar sozinho, planejar meu roteiro, priorizei coisas fora do circuito "turístico" (mas também lugares bem manjados, faz parte)...e tudo isso priorizando aspectos da cultura, História e Arte. Ao final, uma viagem sempre é um processo de aprendizagem.


Durante esta minha segunda viagem à Europa, eu tive a oportunidade de percorrer o itinerário que fizeram grande parte dos grand touristas, e eu pensava todo o meu tempo naquilo.


Talvez inspirado em parte pelo roteiro, em parte pelas motivações desses jovens touristas do século XIX, eu me senti muito próximo e me identifiquei bastante com esse tipo de viagem cognitiva de de formação. Acho que é uma coisa que foi perdida, mas que quem sabe..futuramente, nos veremos livres desse tipo de turismo predatório e idiotizante e teremos de volta pessoas com outro espírito de ir, sobretudo, para aprender.

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