domingo, 14 de outubro de 2012

Santa Croce: o Panteão dos Artistas



      





      Santa Croce é uma espécie de Pére Lachaise (o cemitério das celebridades de Paris) da capital Toscana. É ali que você vai encontrar o túmulo, ou no limite, o epitáfio de algumas das grandes personalidades da cultura italiana como Michelangelo, Maquiavel, Dante e Galileu Galilei.




    Várias cidades do mundo tem o costume de colocar os restos mortais de homens ilustres em um mesmo local. Em Paris , quando eu visitei o Pantheon, vi o túmulo de Voltaire, Rousseau, Vitor Hugo, entre outras “celebridades” francesas. A mesma coisa aconteceu em Roma onde no Panteão original da época dos romanos, foi colocado o túmulo de Rafael Sanzio e também o túmulo de Vittorio Emanuele. E na Inglaterra, a Abadia de Westminster também tem uma função parecida, lá estão os túmulos de  Robert Cook, Tomas Hardy, Oliver Cromwell, entre outros.


      PANTEÃO DAS GLÓRIAS ITALIANAS


    Em Florença, Santa Croce, embora não receba o título oficial de Panteão, também tem essa função.


A igreja situa-se numa praça muito ampla, muito gostosa de visitar.






Bem na frente  da igreja foi construída uma estátua em homenagem a Dante Alighieri.





A igreja foi construída no século XIV, e rapidamente tornou-se um local onde os fiorentinos mais ilustres queriam ter o seu local de descanso. No auge da República Fiorentina, algumas famílias contrataram os artistas mais famosos da época para construírem ou adornarem suas capelas. Cada metro quadrado nas catacumbas de Santa Croce valia alguns saquinhos de ouro que entravam nos cofres da Igreja. Assim, os Castelianni encomendaram obras de Taddeo Gaddi, o construtor da Ponte Vecchio; os Peruzzi, por sua vez, encomendaram uma capela a Giotto; os Bardi contrataram Donatello e por ai vai..uma verdadeira fogueira das vaidades. Quem pode....pode, né?



Capella Baroncelli - Santa Croce

Santa Croce - Primeiro claustro e Capella Pazzi

Os túmulos não ocupam apenas as laterais da Igreja, mas também o chão....

Com o trabalho incessante de artistas, pintores e escultores, a igreja tornou-se um local de grande pretígio. As obras artísticas desses caras valorizaram muito o local. De cada fiorentino ilustre que morria, esperava-se algo esplendoroso, uma capela toda ornada, uma estátua, algo digno de ser lembrado e admirado.

GALERIA DEI MONUMENTI FUNEBRE

No andar inferior da Basílica de Santa Croce você vai encontrar a chamada Galeria dei Monumenti Funebre. Uma exposição com várias lápides que ficavam no claustro, e que foram transferidos para lá em 1996, após uma inundação.


LEONARDO BRUNI

Antes da chegada dos "ilustres" e pop-stars, um dos túmulos mais suntuosos que havia ali era o de Leonardo Bruni. O túmulo dele  feito por Bernardo  Rosselino foi o primeiro a ter status de obra de arte...



O MEMORIAL À FLORENCE NIGHTINGALE

Uma das poucas pistas da passagem de Florence Nightingale pela cidade de Florença (ela recebeu seu nome durante uma viagem de seus pais pela cidade), é um memorial à Dama da Lanterna no interior de Santa Croce. Em um post posterior vou contar a história dela, que teve um papel relevante durante a Guerra da Criméia, mas aparentemente nunca teve mais ligações com a cidade em que nasceu.























O ILUSTRE MICHELANGELO BUONAROTI

    Mas a basílica de Santa Croce ganhou prestígio enorme com a vinda dos restos mortais  de seu artista mais ilustre: Michelangelo Buonaroti. Michelangelo morreu em  1564 em Florença, após ter trabalhado muitos anos nesta cidade. Mas depois de um belo tempo trabalhando em Florença, Michelangelo partiu para brilhar em Roma, foi quando pintou o teto da Capela Sistina, sua obra-prima.

     Inicialmente ele havia sido sepultado na Chiesa dei Santi Apostoli em Roma.
Mas tanto a família de Michelangelo quanto o Grã-Duque de Florença manifestaram desejos de trazer os restos mortais de Michelangelo de volta para a sua cidade natal.


   Alguns anos mais tarde, o neto de Michelangelo, foi até Roma, e junto com seus comparsas roubaram os restos mortais do artista, e trouxeram novamente para Florença. Então, o neto de Michelangelo resolveu enterrá-lo em Santa Croce, uma vez que esta igreja estava perto da Villa Ghibelina, onde ele morava.
O corpo inicialmente remontado no interior da Sacristia de Santa Croce, permaneceu enterrado num túmulo comum. Até que em 1570, os restos mortais de Michelângelo são transferidos para um monumental mausoléu, construído por Vasari. Uma verdadeira obra de arte digna para o repouso do artista mais ilustre de Florença.

Mas tudo isso foi só o começo....muitos outros amiguinhos iriam vir nos anos seguintes, para se juntar a Michelângelo, e compor uma bela reunião de ilustres fiorentinos...

    MAQUIAVEL PICA-GROSSA

Maquiavel tinha 29 anos quando os Medici tomaram o poder em Florença. Durante sua vida, ele ocupou um cargo político na Chancelaria de Florença.  Mas relações com os Medici não foram boas. Ele foi preso, torturado e deportado, sob a acusação de conspiração. Maquiavel foi morar na cidade de São Cassiano, cidade onde escreveu a maior parte d´O Principe. Quando os Medici caem em 1527, Maquiavel tenta reaver seu posto na chancelaria de Florença, mas o cargo lhe é negado devido à notoriedade que conquistou com sua obra.
Nem depois de morto Maquiavel descansou em Paz, seu livro O Principe acabou entrando no famigerado Index Livrorum Prohibitorum - a  lista de livros proibidos pela Igreja Católica após o Concílio de Trento.
Isto causou um certo mal estar, quando quiseram levar o túmulo de Maquiavel para lá. Como um cara que teve seu livro colocado na lista dos proibido pela Igreja seria sepultada numa igreja cristã?

Hoje no seu túmulo está escrito a frase "Tanto nomini nullum par elogium" - algo que significa mais ou menos isso: ele era tão foda que não há palavras adequadas o suficiente para elogiá-lo. Mostrou a pica, hein?


O INCONVENIENTE GALILEU GALILEI

Galileu Galilei nasceu em Pisa, mas quando a coisa fedeu durante a Inquisição, ele correu para baixo das asinhas dos Medici. Em 1616, as idéias de Copérnico haviam sido condenadas pela Igreja. Galileu Galilei, que simpatizava abertamente com as idéias copernicanas, foi intimado à comparecer diante da Inquisição e renegar publicamente as suas idéias. Então Galieleu Galilei, que vivia em Roma, retirou-se para Florença, e teve a proteção dos Medici. 

Em 1632 ele escreveu novamente sobre o tema em Dialogo sobre os dois principais sistemas do mundo. Obra em que ele compara os dois sistemas: o ptolomaico, defendido pela Igreja, e o copernicano, que ele acreditava. Essa obra também acabou caindo no Index Livrorum Prohibitorum.
Galileu morreu em 1642 em Arcetri, cidadezinha perto de Florença.
O mesmo problema que aconteceu com Maquiavel, aconteceu com Galileu Galilei. Achava-se inoportuno colocar o túmulo dentro da Igreja de Santa Croce de um cara que havia sido colocado na lista de livros proibidos e por pouco não teve seu rabo chamuscado pela fogueira da Santa Inquisição.


Os restos mortais só foram levados para Santa Croce em 1727, financiados por Julio Foggini.

O SUMIÇO DE DANTE

Mas com certeza, a ausência mais notada são os dos restos mortais de Dante Alighieri. O poeta mais conhecido de Florença teve uma relação tumultuada com sua cidade natal. Envolvido com a luta política entre guelfos e gibelinos, Dante foi expulso de Florença e nunca mais retornou. Seu corpo permaneceu em Ravenna, cidade em que Dante morreu. Todo ano, Florença manda um óleo benzido para o túmulo de Dante num mausoleu construído na Basilica de San Francesco. No lugar de Dante, encontra-se apenas um túmulo vazio, e a inscrição Onorate l'altissimo poeta (Honra ao poeta mais exaltado)



Então, quem for para Florença, dê uma passadinha em Santa Croce. Ali está uma galeria de ilustríssimos filhos da cidade.


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