LA CUCINA SIMPLICE NAPOLITANA
A comida napolitana é simples, é por isso que a sua gastronomia é conhecida como povera cucina (cozinha pobre) ou la Cucina Simplice. Há um ditado napolitano que diz assim:
"Qual é a melhor hora para o jantar?
Se for rico, a hora que quiser/
Se for pobre, quando puder..."
O povo napolitano foi capaz de criar deliciosos pratos utilizando somente ingredientes simples. O tomate por exemplo, que era produzido na América, foi importado pelos espanhóis. Mas ele não era utilizado em molhos até o século XVI. Somente no século XVIII o molho de tomate começou a ser utilizado em algumas das principais receitas da culinária napolitana. Em Nápoles há uma variedade do tomate, o sammarzano que vem da cidade de San Marzarno, é um tomate mais longo que produz ótimos molhos.
Com essa imensa variedade de molhos e o ótimo tomate napolitano, o macarrão com molho de tomate começou a ser um dos pratos mais tradicionais da Campagna. Os napolitanos herdaram dos gregos o gosto pelos peixes e frutos do mar. Alguns dos pratos típicos dos napolitanos são a enguia frita, o bacallà (bacalhau) e o espaghetti alle vongole (um espaghetti feito com frutos do mar). Porém, os molhos de tomate tornaram-se a base para o macarrão consumido no dia a dia pelos napolitanos.
É comum você ver ilustrações antigas, mostrando o povo napolitano mais simples, comendo macarrão com as mãos, sentados ao ar livre...é uma das coisas bem típicas da Campagna (veja por exemplo os trejeitos do Pulcinella na Commedia dell´Arte, inspirados no povo napolitano e que aparece sempre com um pratão de macarrão, comendo com as mãos)
A Cucina Simplice Napolitana, no entanto, foi absorvida até pela corte dos Bourbons durante o governo das Duas Sicílias. O macarrão era um prato que era servido na mesa do jantar de praticamente todo napolitano, desde o mais pobre até os mais abastados.
Foi dessa incorporação da gastronomia simples, pela nobreza napolitana, que surgiu uma das pizzas mais tradicionais da Itália: a Pizza Margherita.
A INVENÇÃO DA PIZZA MARGHERITA
Já vimos que a culinária napolitana era pobre e simples, tendo grande habilidade em fazer deliciosos pratos a partir de elementos simples. Mas essa comida era tão saborosa que caiu no gosto até da corte dos Bourbons.
Naquela época, a pizza não era uma comida que aparecia muito na mesa da alta sociedade napolitana. A pizza era a comida de ralé. Os napolitanos costumavam comer a pizza do lado de fora dos estabelecimentos. A pizzaria mais antiga de Nápoles (dizem que é a primeira pizzaria da Itália), a Antica Pizzeria Port´Alba, funcionou assim desde o século XVIII, ou seja, era apenas uma portinha que servia a pizza quentinha para os trabalhadores da região, que os comia em pé, ou sentados na rua mesmo. Mas as mesas e cadeiras só foram colocados no estabelecimento à partir de 1830.
As pizzarias napolitanas começarm a surgir no século XIX. Mas a pizza basicamente era um componente da cucina simplice, ou seja, era coisa do povão.
Consta que em 1889, o rei Umberto I da Sicília resolveu fazer uma recepção no Palazzo Reale. O cardápio contava com uma grande variedade de pizzas. Mas o pizzaiolo chamado Rafaelle Esposito decidiu criar uma pizza especialmente para a rainha Margherita di Savoia, usando apenas três ingredientes: tomate, manjericão, e queijo.
Lógico que a rainha amou, e desde então, a pizza que foi criada para a rainha Margherita foi batizada com o homem da homenageada. Surgiu assim a Piazza Margherita Napolitana.
LA VERACE PIZZA NAPOLETANA
Quando você for para Nápoles vai perceber que a pizza é um negócio levado muito à serio na cidade. Tanto que em 1987 foi criado a Associazione Verace Pizza Napoletana que estabelece algumas regras básicas no processo da feitura da pizza para que ela seja considerada uma autêntica pizza napolitana. Em 2009, os pizzaiolos de Nápoles ganharam uma STG (Specialitá Tradizionale Garantia) que era reivindicada há muito tempo.
Para muitos puristas os únicos sabores autenticamente napolitanso são a pizza margherita e a pizza marinara. Algumas pizzarias mais tradicionais de Nápoles oferecem apenas estes dois sabores. Mas o que eu digo pra você é que você pode experimentar várias pizzas nas pizzarias fodonas e caras da Itália (principalmente em Roma, que ao contrário do que se pensa, não tem a pizza mais gostosa da Itália, muito pelo contrário), porém, nada se compara a você comer uma pizza de 4¢ em qualquer portinha que você encontra em Nápoles...
Para muitos puristas os únicos sabores autenticamente napolitanso são a pizza margherita e a pizza marinara. Algumas pizzarias mais tradicionais de Nápoles oferecem apenas estes dois sabores. Mas o que eu digo pra você é que você pode experimentar várias pizzas nas pizzarias fodonas e caras da Itália (principalmente em Roma, que ao contrário do que se pensa, não tem a pizza mais gostosa da Itália, muito pelo contrário), porém, nada se compara a você comer uma pizza de 4¢ em qualquer portinha que você encontra em Nápoles...
L´ANTICA PIZZERIA DA MICHELE
Em Nápoles, pelo que eu sei, há algumas pizzarias bem tradicionais e antigas (a maioria leva o título de "L´Antica Pizzeria" no nome), entre elas estão L´Antica Pizzeria Port´Alba, L´Antica Pizzeria Di Matteo e L ´Antica Pizzeria Da Michele.
Como eu só passei um dia em Nápoles, eu só pude visitar uma delas. Por questões práticas, eu visitei aquela que já estava no meu itinerário. Eu escolhi L´Antica Pizzeria Da Michele. E eu sugiro que você vá visitar. Pois é bem fácil. Mesmo que você esteja voltando de Pompéia e vá para Roma, por exemplo, você pode descer da Estação Napoli Centrale, e caminhar uns 15 minutos pelo Corso Umberto I. É fácil, fácil.
Como algumas das pizzarias mais tradicionais de Nápoles, este também foi criado no século XIX. E desde a sua fundação, a Pizzeria Da Michele segue a risca a mesma receita (que encontra-se exposta na parede do estabelecimento). Ou seja, ali você só vai encontrar dois sabores: a pizza marinara e a pizza margherita. E o melhor: o preço. Uma pizza margherita custa 4¢. Com isso você não toma nem uma coca-cola na região do Coliseo, por exemplo. (Uma das melhores pizzas que eu comi em Roma custou 19¢ e olha que não chega nem aos pés dessa que eu comi em Nápoles).
Bem, e para quem numa ouviu falar sobre esse verdadeiro templo da pizza, vou te dar uma dica. Essa é a famosa pizzaria que aparece a Julia Roberts no filme Amar, Comer, Rezar. Ou seja, a blogueira que escreveu o livro homônimo, que foi um enorme sucesso, andou por ali. Mas na parede da Antica Pizzeria Da Michele, você vai ver uma foto mesmo é de Júlia Roberts...
Lembro-me de estar saboreando a deliciosa pizza de manjericão e tomate, sentando junto com um casal de norte-americanos naquela intimidade forçada (sim, acostume-se: eles te colocam pra sentar com qualquer estranho nesses restaurantes, é cultural). Em meio a conversas genéricas sobre o Brasil, a Itália e os Estados Unidos, nos vimos discutindo sobre como esses italianos são malucos...
Esse dia que eu estive eu estava no Da Michele era o aniversário, a noite eu estaria voltando para Roma...eu tinha escolhido o lugar para comemorar o meu aniversário o restaurante Alfredo alla Scrofa, lugar legendário de onde surgiu o fettucine alfredo...
Sabe, se tem uma coisa nova que eu aprendi nessa viagem foi a solenidade que esses italianos tem com a comida...falar de comida é um negócio que envolve paixão... cheguei a presenciar algumas brigas por causa disso (nada sério, é claro, é só o jeito deles...)
Foi na L`Antica Pizzeria Da Michele, talvez mais do que em qualquer outro lugar que eu tenha visitado na Itália, que eu percebi como os italianos levam a serio o processo de feitura de uma comida...cozinhar é mais do que uma arte para eles, é uma ciência. eu passei muito tempo olhando para aquela receita grudada na parede, mostrando que ali a coisa era séria...neste lugar, o mesmo processo, a mesma fórmula, era respeitada desde a criação do lugar, nada mudava, em nada se mexe...
LA SCIENZA IN CUCINA
Quando eu imaginava que comer era só um ato mecânico, esses italianos me mostraram que não, o comer deve ser um ato respeitado...
Os italianos falam de comida com paixão: no detalhe do preparo, na minucia de cada sabor, de cada ingrediente, está a alma da culinária italiana... e adentrar um lugar desses, seja um ristorante, uma pizzeria ou uma trattoria, é entrar nesse jogo..
Comer é uma festa para os italianos, e para mim foi um prazer reinventado - eu redescobri ali, naqueles instantes, o prazer de apreciar uma boa comida e deixar os sentidos trabalharem. Saímos então da trivialidade cotidiana para aproveitar realmente esse momento mágico que é a hora de comer: e não precisa ser um prato fino, caro - você pode aproveitar os detalhes de um prato simples, como uma pizza margueritta napolitana, que só tem 3 ingredientes...e mesmo assim é uma verdadeira festa para o paladar.
Muita gente já se perguntou porque os italianos gostam tanto de falar em comida - isso já foi até o título de um livro muito bem humorado que faz um levantamento minucioso de como as conversas sobre a comida tem seu destaque na língua italiana. Há um livro que é muito conhecido na Itália, escrito por Pellegrino Artusi chamado "La Scienza in Cucina e l ´Arte de Mangiar Bene". Artusi, que não era um chef, pelo jeito manjava da arte de mangiare (desculpem o trocadilho)... ele listou uma série incrível de comidas italianas que talvez seja não somente um catologo riquíssimo das receitas das vovós italianas, mas um testemunho de como a comida pode ser ela mesmo, um fator de identidade nacional na Itália recém unificada...a comida é, neste sentido um verdadeiro patrimônio imaterial para os italianos, dos italianos....
Chega a ser engraçado... não é difícil encontrar algum italiano defendendo com unhas e dentes um ponto gastronômico: o verdadeiro tiramisù só pode ser experimentado no Treviso; a bisteca fiorentina só pode ser feita em Florença - e ai de você se quiser opinar sobre o ponto da bisteca; a ribolita de verdade tem que ir ao fogo duas vezes; o molho de tomate tem que ser feito a uma certa temperatura, para a pele ir saindo aos pouquinhos; as verdadeiras pizza napolitanas são só duas (marghuerita e marinara)... eles podem passar horas e horas discutindo sobre isso e pior, não importa se alguém consegue obter o mesmo resultado ou desempenho em nada devendo aos originais... para ser uma autêntica, tem que respeitar o processo, a história, o lugar em que é feito, tudo isso...vai entender. comer é coisa séria....para os italianos.
Com eles, os italianos, por um momento eu pensei: nós mortais, só temos esses poucos momentos para aproveitar a vida ....que seja...vamos comer!!!
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