Obra do artista inglês Banksy _ "O Homem Paleolítico vai ao Supermercado" |
Mas você sabe como surgiu a Fnac?
Parte I -
"Fnac" - uma história de ativismo cultural
O que acontece quando dois malucos, ex-trotksistas, decidem montar uma associação de compradores de bens culturais? Foi o surgimento em 1954 da FNAC (sigla de Féderation Nationale d´achats pour cadres), criada por Max Theret e Andre Essel. .
Max Theret eAndré Essel, fundadores da FNAC |
A idéia era tão simples quanto revolucionária: juntar uma série de malucos numa federação de compradores, que teriam assim força para negociar produtos e bens culturais a preços mais em conta. Como o próprio nome diz Federação Nacional dos Compradores de Quadros..no início, a Fnac não constituía uma loja física, mas uma associação ou um grupo de compradores que tinham condições de negociar diretamente com as lojas os seus produtos, conseguindo preços de 10 a 15% mais baratos...
Pode parecer simples, é o tipo de coisa que quando acontece, todo mundo pensa: "mas eu ja tinha pensado nisso antes, por que eu não fiz isso?".... É..só que ninguém fez né, meu amigo? Então, a Fnac tem um papel importante na democratização da cultura na França..foi a idéia de dois caras politizados e malucos que tinham uma idéia maluca de transformar quadros, músicas, cinema..em bens culturais acessíveis a todos.
Nesse sentido, a Fnac teve na França, em meados dos anos 50, uma real importância na mudança de preços desses produtos...Você já notou por exemplo, que aqui no Brasil, o livro é vendido em capa dura, cheio de perfumarias e estratégicamente montadas em estantes de best-sellers, vendidos como artigos de luxo? Qualquer pessoa que visite uma livraria francesa vai perceber imediatamente a diferença: lá os livros só tem o título impresso na capa, e o papel é bem vagabundo ou seja, nada de perfumaria ou fetiche pelo produto...o que importa mesmo é o conteúdo..
Neste sentido, é emblemático que Essel e Theret indagavam se "o livro é para o livreiro ou para o leitor?"
Padrão de simplicidade dos livros franceses: "Deux Regimes des Fous" - Gilles Deleuze, publicado em 2003 |
Neste sentido, é emblemático que Essel e Theret indagavam se "o livro é para o livreiro ou para o leitor?"
Seja como for, o empreendimento de Essel e Theret deu certo..e muito. No começo eles conseguiram encontrar associados, vendendo produtos através da revista Contact (uma revista criada nos anos 50 que servia como forum contra os preços altos)...
A primeira loja física da Fnac foi já em meados dos anos 50, no Boulevard Sebastopol. E esta também tinha um diferencial: era formado por vendedores altamente treinados, cada setor da loja contando com "especialistas" no assunto...
No início a Fnac era procurada principalmente por quem queria adquirir produtos de Fotografia, depois vieram os discos, Lps, aparelhos de rádio; depois os livros,....nos anos 80 vieram os hardwares e produtos de informática...
Primeira "loja física" da Fnac, inaugurada no Boulevard Sebastopol |
E se for pensar bem..a Fnac é uma daquelas coisas que consegue captar bem o "ambiente" da época, " "absorver" as mudanças em curso naquela sociedade. Isso porque em meados dos anos 50 e inicio da década de 60, nós temos na França uma certa abertura nas Universidades, o surgimento de uma classe média que não tem assim tanto dinheiro, mas que está avida para consumir Cultura....Neste sentido, o empreendimento de Essel e Theret conseguem mexer no delicado equilíbrio que se dá entre as Editoras, Gravadoras e as Lojas...provocando debates acalorados sobre os "defensores dos preços livres" contra a "ditadura dos preços baixos" (é conhecida uma temível "lista negra" que a Fnac mantinha de lojas que praticavam preços abusivos ou tinham má reputação) , até a formulação da Lei Lang em 1981.
É dificil ver dois ex trotskistas, esquerdistas, revolucionários, convertidos em empresários. Mas também é preciso pensar que tratava-se de uma nova relação entre produto, consumo e consumidor. André Essel lembra-se que muitos clientes se mostravam incrédulos com a política de preços baixos (até 20%) praticada na Fnac. "Chega de Preços Inflacionados", "Abaixo ao Preço Alto" eram alguns slogans. Paralelamente a isso, os fundadores da Fnac tinham uma preocupação com a qualidade dos produtos oferecidos. Theret tinha uma função de "juiz de qualidade" e periodicamente oferecia sessões organizadas pela seção de fotografia onde os produtos eram analisados de acordo com a qualidade do material, eram dados aconselhamentos aos consumidores. Esse tipo de prática fez com que muitas lojas boicotassem a Fnac, fazendo com que eles tivessem que conseguir produtos temporariamente em outros países.
A Fnac também foi uma das primeiras a ter a sacada de criar um espaço de interação entre o artista, o escritor, ou seja o "produtor" para mais perto do seu "público", criando sessões literárias, artísticas, colóquios, lançamentos...etc. na própria loja. Essa é uma coisa que deu muito certa, e existe até hoje...
Nos anos 60, esses caras são realmente militantes do ativismo cultural. Embalados com o vento em polpa da Fnac eles criam uma associação chamada ALPHA (Arts et Loisirs Pour l´Homme d´Ajoud´ hui), entregues a coordenação de Raymonde Chavnac, cujo objetivo era organizar espetáculos culturais, lazer, eventos musicais a preços mais acessíveis. Em 1968, por exemplo, a Alpha organiza um espetáculo dedicado a jovens músicos e interpretes, criando o "Festival de la Jeune Chanson Française"...
Olha, tá certo em algumas décadas de existência, o sentido inicial da Fnac se deteriorou, sua política de ativismo cultural se esfacelou e hoje a Fnac não tem lá muita coisa de diferente de outras lojas, a não ser que você encontra tudo lá em quantidade absurda...Mas, pelo menos em sua criação, nos anos 50, com seus fundadores esquerdistas-empresários, a Fnac constituiu um sopro bem vindo e um tapa na cara daqueles que monopolizavam o comércio e a indústria de Cultura...
Publicidade da Fnac-Mastercard - "Whenever you pay, culture is never far away" (Onde quer que você pague, a cultura nunca estará muito longe) |
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Parte II
Eu na Fnac em 2010....
. Esta é a Fnac Montparnasse (situa-se na Rue Rennes, 136)
A minha relação com a Fnac tinha como ponto de partida uma missão...Dias antes, a Ana comprou um livro pelo site da Fnac..e deixou como endereço de livraison (entrega) a rue de Charlot, n. 72...ou seja: meu QG em Paris..Quem iria pegar? C´est Moi...Portanto, vejam a importância da minha missão..trazer diretamente de Paris..à salvo..um livro de Mme. Fatimane Moussa Aghali. Contes des dunes et des sables..
Mas quem disse que o livro chegou????? Então..essa simples missão se transformou em um dos diálogos mais complexos que eu travei no meu tosco francês..Imagine você tirar 8,3 no exame do Francês I..no Celin...(sabendo falar algo como o equivalente do The book is on the table em francês..) e ter que explicar para um vendedor..que uma amiga sua comprou um livro pelo site da Fnac..e que deixou o endereço do meu hotel..para eu buscar..mas que o livro não chegou...até ai tudo bem....consegui explicar..
Mas se for comprado pelo site Fnac.com... tinha que ter uma espécie de senha...um código de rastreio ..para saber por onde e a que pé estava o livro...................dai já era demais né..
Bem..até o vendedor..com uma ponta de orgulho disse algo do tipo assim "si vous ne trouvez pas à la Fnac ....il n´y a pas à Paris! (se você não achou na Fnac..não há em Paris!!!)
Bem..o troço é gigante mesmo..parece um Wall Mart dos livros, cds e afins..achei particularmente interessante quando você vai pagar o livro..são aqueles caixas parecidos com o de mercado mesmo...
Bem..o troço é gigante mesmo..parece um Wall Mart dos livros, cds e afins..achei particularmente interessante quando você vai pagar o livro..são aqueles caixas parecidos com o de mercado mesmo...
caixas estilo supermercado..você vai com a sua cestinha..
2 comentários:
Hahahahaha, puta empreitada...
A editora é de Roisy-en-Brie, na região centro-norte da Île de France. Mesmo assim, demorou pra caralho.. :/
kralho..mas eu não entendi nada o que a vendedora disse..era como o EMINEN falando em francês.
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