domingo, 17 de outubro de 2010

Câmeras e Equipamentos: dicas para fotografia em viagens







A viagem entrou primeiro em minha vida, mas acho que a fotografia e a viagem são complementares. Giorgio Agamben escreveu um belíssimo texto sobre a relação entre a fotografia e o gesto. O gesto, diz  Agamben, é aquilo que condensa o peso de toda uma vida, e a fotografia é aquela que fixa irrevogavelmente aquele gesto. Então, aquele gesto mais simples, mais banal que capturamos do nosso cotidiano através de uma lente fotográfica, é assim que nos apresentaremos no dia do Juizo Universal..




Nesta primeira viagem que eu fiz à Paris em 2010 , eu não tinha nenhuma preocupação especifica com câmeras ou equipamentos fotográficos. No melhor espírito “aponte e aperte” eu disparava minha camera, tentando apenas documentar aquilo que eu havia visto...Com isso, eu retornei de minha viagem com mais de 4000 mil fotos...
Mas, com certeza, nem todas as fotografias que eu tireí, exprimem a altura aquilo que eu vivenciei..senti uma espécie de vazio entre a experiência e o registro...

Então vou te dar umas dicas. Nada muito profissional é claro, pois há centenas de cursos disponíveis que são ministrados por pessoas competentes do meio. Mas, não custa investir algum tempo (e dinheiro) e pensar um pouco nesse lado, para não cair no mico de ter uma bela viagem na memória, e nenhuma foto decente para colocar no seu porta-retrato ou mesmo no seu  album do Orkut, Facebook, Flick, Picasa, Tumbl.etc.

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DICAS DE FOTOGRAFIA EM VIAGENS

1) Escolher sua câmera: 

Talvez você comprar uma superhiper e cara câmera seja um luxo desnecessário se você vai tirar foto apenas do teatrinho das crianças dos Dia dos Pais, ou dos amigos do churrasco, mas para quem vai viajar..e quer documentar bem a sua experiência, uma boa câmera faz toda a diferença não é mesmo?



Qual tipo de  câmera é melhor?
Isto depende do seu objetivo e do quanto pretende gastar. Existem câmeras de todos os tipos e pra todos os bolsos...

Mas se você eventualmente quer uma imagem de boa qualidade, talvez seja a hora de pensar em trocar sua velha câmera compacta por uma reflex..


a)Câmeras compactas:



Pontos positivos: é leve, barata, silenciosa, facil de usar, e com modelos cada vez mais finos e pequenos, é fácil levar ela no bolso (a prudencia nos mostra que não é em todo lugar que se pode parar com uma máquina fotografica à vista). Ela faz tudo por você, porém esse "tudo" nem sempre é o "melhor"


Pontos negativos: qualidade da imagem ruim, tem sensores de imagens pequenos,(, além da conhecida lentidão e o atraso do obturador) e não se enganem com máquina que oferecem mais megapixels...uma câmera à partir de 6 megapixels já resolve a sua vida

Então, se você está pensando em sair dessas câmeras compactas para uma profissional reflex, é um começo para uma longa relação com o mundo atraente das câmeras e fotografias, que requer tempo, investimento e boa vontade....

b)Câmeras Bridge: 


Pontos positivos: São câmeras intermediárias, que permitem uma boa qualidade e controle manual, sem ter que desembolsar uma quantidade absurda (se você não ganha dinheiro trabalhando com isso, é um investimento meio salgado pagar 4.000 $ numa lente). Elas não permitem troca de lente, mas geralmente possuem uma lente acoplada com um superzoom. (Elas se parecem muito com as DSLR, mas no final das contas é só uma câmera metida a besta)



Ponto negativo: uma câmera bridge boa não é lá muito barata. e pelo mesmo preço talvez você encontre um modelo de entrada de uma máquina profissional..


c)Camera DSLR
No caso, no nicho das câmeras profi "pica-grossa"...há excenlentes câmeras DSLR da Canon e da Nikon, ambas com seus defensores e entusiastas. Ambas com qualidades e defeitos.




Ponto positivo: a diferença da qualidade de uma câmera DSLR (sigla em inglês Digital Single Lens Reflex) é inegável. Por permitirem maior controle manual da máquina é que elas são usadas por profissionais. Mas como toda máquina fodona...você precisa de um tempo pra aprender a lidar com o "bichinho"...e fotos melhores significa tempo e investimento em equipamentos..
Porém, pode ser um investimento caro, mas pense que você está em suas mãos um produto de qualidade mesmo. Por exemplo, a maioria das máquinas tem o corpo de liga de magnésio bem mais resistente ao impacto e à poeira. A maioria das máquinas também possuem um sistema automático de remoção de poeira (as lentes das analógicas antigas estragavam porque mofavam por dentro). 
Com todo esse esquema de acabamento caprichado de uma máquina de DSLR, você pode tranquilamente:

Verdadeiro (V) ou Falso (F):
(V) Espetar sua máquina com um garfo
(V) Jogar café quente em cima
(V) Bater com ela num poste
(V) Deixar cair de uma escada
(F) amarrar aos seus sapatos e andar como se fosse uma  "perna-de-pau"
(F) Abrir o seu corpo e pintar  as peças de cor-de-rosa



Ponto negativo: o seu valor, são máquinas caras e cheios de usos técnicos(embora hoje em dia muitas câmeras possam ser usadas de forma intuitiva: paisagem, desporto, panorama, retrato, etc) e pode ser que aquela foto desejada só venha com a experiência. Elas são um pouco pesadonas..acho que algumas pesam quase  um kilo, mas em compensação elas tem um bom encaixe das mãos que permite uma boa empunhadura e uma ergometria excelente (todos os botões e comandos estão muito bem posicionados)

2) Equipamentos

2.1 Cases e mochilas
Se você tem uma câmera pica grossa, você com certeza perceberá que é preciso tomar cuidados para acondicioná-la corretamente durante uma viagem. Principalmente devido as lentes.

Neste caso, muitas câmeras já vem com cases próprios, mas talvez seja necessário você comprar uma.


Também existem no mercado mochilas específicas para o transporte de câmeras e equipamentos fotográficos. Por fora parece uma mochila normal, mas por dentro tem compartimentos para proteger as peças.


 2.2Tripés e Monopés: 
Algumas máquinas precisam de bastante firmeza na hora de tirar a fotografia, para que as imagens não fiquem tremidas. Isso depende da velocidade do obturador..quanto menor for a velocidade que você estará usando numa DSRL, mais firmeza você tem que ter na mão, pois mais tempo vai demorar para que a câmera capture a imagem. Uma dica é usar aqueles tripés de alumínio, que tem um mecanismo parecido com o do "macaco" usado para trocar pneu, sabe? Você não vai querer fazer sua viagem com um trampolho pesado e desengonçado, que você tem que levar pra lá e pra cá né?

        Quando usar tripè:

- quando sua mão tremeu,
- quando o objeto fotografado está em movimento
- quando você está se locomovendo (por exemplo, você está dentro de um carro ou trem, fotografando algo que está la fora)




Tá bom, é verdade que ninguém que não seja masoquista...gosta de carregar um tripé...mas uma boa qualidade da foto muitas vezes depende dessas geringonças....e ainda não inventaram uma no estilo "De Volta para o Futuro", que encolhe e você coloca no bolso depois de usar..

   Mas pode ser que um monopé resolva a sua vida. No caso, se a foto ficar tremida, um monopé não vai te ajudar muito. Mas é bem melhor do que segurar ela simplesmente na mão....por muito tempo.
       Muitas pessoas dizem que a diferença entre o profissional e o amador está no uso do tripé. É claro que  isso é uma tremenda de uma asneira, mas se você pretende tirar boas fotos é bem possível que uma hora dessas você precise adquirir um.

3) Lentes


Se você comprou uma câmera DSLR provavelmente ela terá em seu kit uma lente. Não importa a marca que você comprou provavelmente ela vai vir com uma lente 18-55. O que isso significa? A 18-55 é a lente padrão que vem nas máquinas DSLR porque ela é perfeita para resolver a maioria das necessidades mais imediatas para quem está começando. Costumam ser lentes muitos boas, mas não excepcionais. Para quem está acostumado com o zoom de 4x de uma câmera compacta, vai gostar bastante da diferença.



4) Cuidar da Câmera:
Agora que você tem sua câmera, é necessário que você saiba cuidar dela. Principalmente em ambientes com muita circulação de pessoas, como no caso de pontos turísticos que você vai visitar, onde ficamos mais vulneráveis a furtos e roubos. Nesse caso, veja o video-aula de auto-defesa do nosso amigo Charles Bronson:

5) Regra dos terços: 
É uma regra básica de fotografia. Pegue uma imagem, divida ela em 9 quadrados, no estilo "jogo da velha". Os  pontos-fortes da sua foto devem ficar concentradas nas 4 convergências do centro ..é ali que você vai alinhar o "tema" da sua foto.

No caso, também pode ser usado se você quiser valorizar a paisagem, deve posicionar assim:
E se você quiser valorizar o detalhe do céu, do sol, ou das nuvens, deve posicionar assim:




6) Não se esqueça de retirar a tampa:


7) velocidade do obturador é o que controla o tempo de exposição da máquina. Basicamente é o tempo que a máquina usa para abrir e fechar controlando a quantidade de luz que irá chegar ao sensor digital ou à película. Quanto menor a velocidade do obturador, mais tempo ele vai demorar para abrir e fechar, consequentemente mais entrada de luz. Isso exige muitas vezes o uso de tripé para que não haja os "rastros", quando o motivo da foto for um objeto em movimento..

7) Iso

É a sensibilidade da câmera em relação à luz. Em ambientes pouco iluminados é recomendável utilizar iso de valor elevado para favorecer a captura da luz. O inconveniente do iso é que ele tende a produzir um efeito "granulado" (ou seja, o que se costuma chamar de "ruido")  na sua foto quanto mais alto for o valor. Quanto mais alto for o valor do iso também maiores as chances das fotos saírem tremidas ou borradas quando com pouca luz ou com o assunto em movimento. Dai recomenda-se utilizar "lentes rápidas". Hoje em dia há cameras que conseguem chegar a mais de 3200 iso. Mas se o objetivo for tirar fotos limpidas é melhor procurar um ambiente de melhores condições de iluminação e diminuir a sensibilidade em relação à luz.


9) Abertura do diafragma
A abertura do diafragma também vai controlar a quantidade de luz que entra na máquina. Mas com ela basicamente você vai controlar a "profundidade de campo". Ou seja, quanto maior for a abertura do diafragma maior será a quantidade de luz que entrará, e quanto menor for a abertura, menor a quantidade de luz. A abertura do diafragma é representada pelo valor f...cada valor tem o dobro de área do valor seguinte (ex: f 2.8 -  f 5.6 - f 8.0). Quando você usa uma abertura maior (valor f  mais baixo) a profundidade de campo diminui, quando você usa a abertura menor (valor f alto) a profundidade de campo aumenta.



10) Flashes: quando usar e quando não usar o "flash"

Um dos assuntos mais complicados é quando usar o flash. Quando fica muito perto ele "estoura" a figura, e quando a foto é tirada de longe deixa a sensação de "escuro". Via de regra, o flash só funciona de perto, se o objeto está a cerca de 4 ou 5 metros. Não adianta querer ligar o flash se o objeto retratado está a 30 metros, por exemplo. Outro tipo de mau uso do flash são em show e ambientes iluminados usando o flash somente para iluminar o "cabeção" de quem está a sua frente, e deixando de lado todo o resto. 
Então, se eu pudesse te dar uma dica eu diria. Desligue o flash!!!!
O único caso em que o flash pode ser necessário é a contra-luz, como por exemplo se uma pessoa tira uma foto com a luz do sol ao fundo, deixando no rosto da pessoa uma sombra. Nesse caso, a função do flash será de preenchimento. 

E tem coisas que nem precisa dizer né: tacar o seu flashezao na Ultima Ceia ...never!!!!!

 11) Cuidado com o fundo
Tenha sempre cuidado em escolher o ambiente ideal para sua foto. Muita gente se preocupa apenas com o tema principal, esquecendo do que acontece ao fundo. A escolha do que aparece ao fundo tem tanta importância quando o que aparece em primeiro plano. Se você não acredita, é só pesquisar na internet, milhares de fotos "estragadas" pela imagem em segundo plano. Algumas já são "pérolas", como estas:



 12) E finalmente: ....."o punctum..ou aquele detalhe"
         
Finalmente, vale a máxima que por mais que uma excelente parafernalha ajude, atrás de uma boa foto está um excelente fotógrafo. Então, por mais piegas que pareça, lembremos sempre que quem faz a foto é o fotógrafo. Claro que nenhum de nós vai ser um Dondero, um Sebastião Salgado ou um Doisneau..mas ao menos vale a pena tê-los como inspiração.

E por que caras fodões como eles nos emocionam tanto com imagens "aparentemente" simples, quase como tiradas ao acaso?
Walter Benjamin dizia que a natureza que fala a camera é distinta daquela que fala o olho (o que Benjamin chama em sua Pequena História da Fotografia de "inconsciente ótico) - distinta sobretudo porque, graças a ela, "um espaço constituído inconscientemente substitui o espaço constituído pela consciência humana". Por exemplo, você não se dá conta do andar de uma pessoa, mas a fotografia, por um instante torna-o patente. A camera lenta, a ampliação. A fotografia é com certeza um outro olhar, que não aquele do olho humano. Quando Dauthendrey relembra o impacto das primeiras imagens congeladas pelo daguerrótipo, ele comenta que não se ousava olhar para os detalhes das imagens que a câmera minunciosamente confecçionou.."Tínhamos medo da nitidez".

A fotografia não pode ser um mero registro..e como tal, ela pode ser muito chata..Arte ou Tecnica, a fotografia é uma sensibilidade...a fotografia liberou a arte da sua função de "reprodução do real", mas também criou um campo totalmente novo.. como diz William Kleim: "O fotografo me ensina como se vestem os russos: noto o grosso boné de um garoto, a gravata de um outro, o pano da cabeça da velha, o corte do cabelo do adolescente..."

Rolland Barthes  (em "A câmara clara: notas sobre a fotografia") chama de punctum essa sensação de algo que parte da cena e nos acerta como uma flecha certeira..O "punctum" é o detalhe, uma co-presença, à partir da qual nenhuma análise seria possível...basta que uma imagem seja suficientemente grande para que possa perscrutá-la. O punctum supõe a entrega desse espectador ao detalhe, que salta aos olhos de uma fotografia para pungir nossas emoções...

Seja como for, apesar de toda a perícia do fotografo, e de tudo que existe de planejado nesta arte ou técnica que se chama fotografia, existe sempre a procura de uma pequena centelha do acaso, do aqui e do agora, onde a realidade chamuscou a imagem da câmera, existe aquela tentação de procurar no acaso, aquele momento próximo  em que o futuro se aninha nos seus momentos únicos....










Agora é só curtir as fotos da sua viagem....




  (*Meu brinquedo- aguardando a próxima viagem - Nikon d90)


               

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