Eu sempre preferi a palavra Nomadismo ao invés de viagem. Ser nômade é mais do que ser um simples viajante, mas é criar constantemente seus territórios, nomadizar o espaço..definir o que nos define e o que nos separa...enfim, construir nosso território
Nômades não viajam, quem viaja são os exilados, os imigrantes, os peregrinos. Os nômades, ao contrário, constantemente territorializam seu espaço, transformam o deserto em sua morada. Deleuze, no seu Pouparlers (Conversações) explicava que viajar (ou melhor, a viagem do intelectual) é "falar alguma coisa em outro lugar, e voltar a falar alguma coisa aqui. Que ao menos não se volte, que fique por lá..É preciso não se mexer muito para não espantar os devires!!!¨"
Um devir-nômade...idéia deliciosa que empresto de Deleuze e que dá nome a este blog de viagens. Deleuze não era contra a viagem, mas achava que uma viagem prescinde de movimento. Ele exaltava os devires-nômades evocando o conceito de nomadismo, mas ao mesmo tempo em que sempre dizia ter ojeriza a viagens.
Por outro lado, naquela conversa maravilhosa com Claire Parnet, que foi publicada (em video também) sob o título de Abecedaire (Deleuze de A a Z), Deleuze visivelmente cansado e abatido pela doença, fala da sua relação com a viagem. Como intelectual, ele nunca gostou de viajar para participar de colóquios, encontros e mesas redondas ("os professores pagam suas viagens com palavras"). Ele achava extremamente enfadonho, monstruoso até, o rítmo que se impunha a um intelectual de ter que viajar, falar em outros lugares "o que se poderia falar em casa".
Claire Parnet notou bem, começando o trecho de "V de Viajem" do Abecedaire, notando que ao mesmo tempo que Deleuze manifestava uma certa antipatia a viagem caseira e cotidiana, ele construiu em seus últimos livros o conceito de nomadismo.
Há um belo trecho nessa conversa onde Deleuze fala da viagem em Proust. Segundo ele, há uma frase em Proust onde o escritor se pergunta o que fazemos quando viajamos? E Proust nos diz que quando viajamos verificamos se uma cor está realmente lá. Sempre verificamos algo, diz Proust: "um mau verificador é aquele que não vai verificar se uma cor que sonhamos está lá, mas o bom verificador vai." E você se lembra daquelas emocionantes frases de Amyr Klink, nos fazendo perder a respiração quando fala, com toda propriedade do por que "Um homem precisa viajar?". Sempre achei que tinha algo de Proustiano ou Deleuzeano naquelas palavras de Klink:
" Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver" (o grifo é meu)
Para Deleuze, a viagem prescinde de espaço e mesmo de movimento. Viaja-se "sem sair do lugar". E por mais que seja estranho ouvir Deleuze dizendo que os "nômades são os que menos viajam", podemos entender que no fim das contas, por mais que você vá ver se "uma cor está la"...é você que constrói seu próprio território, territorializa o espaço, faz do deserto sua moradia. Neste sentido, Deleuze sempre pensou a Mùsica, a Arte ou o Cinema como formas de pensamento. Uma geo-filosofia onde Deleuze vai buscar os conceitos onde não há movimento, apenas matéria-pensamento.
Mas quando C. Parnet pergunta então o que ele fazia em suas viagens no Libano, Estados Unidos e Canadá, Deleuze responde: "eu gostava de de andar, fazia caminhadas da manhã à noite, sem saber por onde ia. Andava por uma cidade á pe...."
Não vejo melhor definição do que esta, ou melhor justificativa para fazer uma viagem: simplesmente andar, por ai.....
Fitzgerald dizia que "somos idiotas demais para viajar por prazer"... mas eu digo que somos idiotas somente se não viajarmos.
Inspirados pela recente viagem à Paris e pelas reflexões deleuzeanas sobre a Viagem, decidi escrever este blog, o qual, por motivos obvios para mim (e talvez para você), dou o nome de Devir-Nômade. O seu motivo original é escrever textos que falem de Viagem, História e Filosofia. Mas, o seu sentido permanece inteiramente, em aberto....
Nômades não viajam, quem viaja são os exilados, os imigrantes, os peregrinos. Os nômades, ao contrário, constantemente territorializam seu espaço, transformam o deserto em sua morada. Deleuze, no seu Pouparlers (Conversações) explicava que viajar (ou melhor, a viagem do intelectual) é "falar alguma coisa em outro lugar, e voltar a falar alguma coisa aqui. Que ao menos não se volte, que fique por lá..É preciso não se mexer muito para não espantar os devires!!!¨"
Um devir-nômade...idéia deliciosa que empresto de Deleuze e que dá nome a este blog de viagens. Deleuze não era contra a viagem, mas achava que uma viagem prescinde de movimento. Ele exaltava os devires-nômades evocando o conceito de nomadismo, mas ao mesmo tempo em que sempre dizia ter ojeriza a viagens.
Por outro lado, naquela conversa maravilhosa com Claire Parnet, que foi publicada (em video também) sob o título de Abecedaire (Deleuze de A a Z), Deleuze visivelmente cansado e abatido pela doença, fala da sua relação com a viagem. Como intelectual, ele nunca gostou de viajar para participar de colóquios, encontros e mesas redondas ("os professores pagam suas viagens com palavras"). Ele achava extremamente enfadonho, monstruoso até, o rítmo que se impunha a um intelectual de ter que viajar, falar em outros lugares "o que se poderia falar em casa".
Claire Parnet notou bem, começando o trecho de "V de Viajem" do Abecedaire, notando que ao mesmo tempo que Deleuze manifestava uma certa antipatia a viagem caseira e cotidiana, ele construiu em seus últimos livros o conceito de nomadismo.
" Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver" (o grifo é meu)
Para Deleuze, a viagem prescinde de espaço e mesmo de movimento. Viaja-se "sem sair do lugar". E por mais que seja estranho ouvir Deleuze dizendo que os "nômades são os que menos viajam", podemos entender que no fim das contas, por mais que você vá ver se "uma cor está la"...é você que constrói seu próprio território, territorializa o espaço, faz do deserto sua moradia. Neste sentido, Deleuze sempre pensou a Mùsica, a Arte ou o Cinema como formas de pensamento. Uma geo-filosofia onde Deleuze vai buscar os conceitos onde não há movimento, apenas matéria-pensamento.
Mas quando C. Parnet pergunta então o que ele fazia em suas viagens no Libano, Estados Unidos e Canadá, Deleuze responde: "eu gostava de de andar, fazia caminhadas da manhã à noite, sem saber por onde ia. Andava por uma cidade á pe...."
Não vejo melhor definição do que esta, ou melhor justificativa para fazer uma viagem: simplesmente andar, por ai.....
Fitzgerald dizia que "somos idiotas demais para viajar por prazer"... mas eu digo que somos idiotas somente se não viajarmos.
Inspirados pela recente viagem à Paris e pelas reflexões deleuzeanas sobre a Viagem, decidi escrever este blog, o qual, por motivos obvios para mim (e talvez para você), dou o nome de Devir-Nômade. O seu motivo original é escrever textos que falem de Viagem, História e Filosofia. Mas, o seu sentido permanece inteiramente, em aberto....
2 comentários:
Viajar sem sair do lugar é ótimo, mas viajar saindo do lugar é melhor ainda!! : D
Pra onde vão os trens meu pai? Para Mahal, Tamí, para Camirí, espaços no mapa, e depois o pai ria: também pra lugar algum meu filho, tu podes ir e ainda que se mova o trem tu não te moves de ti
HHilst em Axelrod
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