Nesta viagem eu tive uma
experiência muito pessoal: visitei 3 dos grandes hospitais franceses Bicêtre,
Salpetrière e Charenton. Para dizer a verdade, todo o sonho de conhecer Paris nasceu do meu interesse em visitar estes três hospitais "um dia"... (você sabe né, começa assim, "um dia vou fazer isso", "um dia vou pra tal lugar", etc)
Esta visita está relacionada a um antigo
interesse: entre 1999 e 2006 eu fiz uma pesquisa sobre um hospício em Curitiba –
o Hospício Nossa Senhora da Luz. Esta pesquisa resultou numa tese de doutorado chamado Uma Máquina de Curar: o Hospício Nossa Senhora da Luz e a formação da tecnologia asilar (Curitiba, final do século XIX início do XX). Além de artigos, publicações e participações em livros, que talvez só interesse a quem é pesquisador.
Esta viagem, portanto, foi a oportunidade de
conhecer um pouco os lugares históricos que povoaram minha imaginação durante a
escritura de minha tese de doutorado. Tratava-se de hospitais onde Pinel,
Esquirol e seus discípulos sistematizaram uma série de procedimentos chamados
de Tratamento Moral, que vai dar origem a psiquiatria moderna.
HOTEL DIEU
Além dos três grandes hospícios
que eu comentei: Bicêtre, Salpetriére e Charenton. Antes, eu fui dar uma
passadinha no Hotel-Dieu de Paris. Trata-se do hospital mais antigo da França,
criado ainda na Idade Média. Porém naquela época, o hospital ainda não era um
espaço clínico, um espaço de observação – o próprio nome, Hotel Dieu já nos
deixa claro isso, tratava-se de um espaço onde se ia não para curar, mas para
morrer.
SALPETRIÊRE
Salpetriére foi o primeiro dos
grandes hospitais franceses que eu visitei. Não porque ele seja o mais
importante dos três, mas por causa da sua localização. È o mais fácil deles de
ser localizado, ele se situa na região próxima do Jardin des Plantes, e dá pra
chegar lá a pé se você estiver na região da Sorbonne.
Salpetriére é o segundo hospital
onde Philippe Pinel tornou-se diretor. Durante a Revolução Francesa, Pinel
assume o cargo de diretor chefe nos hospitais de Bicêtre e Salpetriére. O gesto
de mandar desacorrentar os loucos foi considerado o gesto simbólico, fundador
da psiquiatria moderna, o gesto que marcava o momento em que os loucos não eram
mais tratados como animais ou feras, mas sim como seres humanos.
Neste hospital, há um quadro
muito famoso no saguão, de Tony Robert Fleury, mostrando as alienadas da
Salpetriére sendo libertadadas por Pinel.
E bem na entrada, há uma estátua
enorme, escrita “ Au docteur Philippe Pinel, bienfaiteur des alienes”
BICETRE
Bicêtre eu visitei num domingo à
tarde, quando voltei de uma visita a Versalhes. Como era dia ainda, e costumava
ficar com sol a pino até perto das 10 da noite naquela época (setembro), eu
arrisquei pegar o metrô e ir até a estação Kremilin-Bicêtre.
O hospital propriamente dito, fica a algumas quadras da estação, então foi fácil de achar.
O hospital propriamente dito, fica a algumas quadras da estação, então foi fácil de achar.
Hoje em dia, Bicêtre é um
hospital universitária, até parece um hospital comum. Mas este lugar tem um
significado histórico, Foi lá que Pinel iniciou o seu gesto simbólico que é
saudado por todo mundo como o gesto fundador da psiquiatria: a libertação dos
alienados.
Sobre Bicêtre, eu gosto
principalmente de lembrar da história de Theroigne de Méricourt, uma jovem
belga que durante a Revoluçao Francesa liderou um grupo de revolucionária (a
maioria dels vistos como desclassificados: prostitutas, vagabundos, etc) Esta
jovem belga, da Ardenha, no entanto, bem em meio ao período revolucionário,
teve uma reviravolta: foi diagnosticada como melancólica, passando a ser
tratada por Pinel, e depois por Esquirol
Theroigne de Méricourt - personagem emblemático da Revolução Francesa, acabou seus dias assim, diagnosticada como "melancólica" e sendo tratada por Pinel e Esquirol |
O último hospital que eu visitei
foi Charenton. Este foi o mais difícil de encontrar, porque ele fica numa
região não tão próxima da estação de metrô e fica fora da região central de
paris, já em Bercy. Hoje em dia, esse hospital é chamado de Esquriol. Até 1825
ele foi dirigido pelo mesmo, e depois disso, foi assumido por Royer-Collard, o
médico que tratou do Marquês de Sade nesta insituição (se você viu o filme Contos Proibidos do Marques de Sade, se
passa ali, neste hospital - e ..Ok, este não é o melhor filme para se recomendar para assistir sobre o assunto, recomendo As Loucuras do Rei George)
Bem, este foi um breve relato de uma visita que eu fiz, percorrendo os hospitais psiquiátricos franceses. Quem visita um hospício, nunca deixará de se lembrar, é uma experiência marcante. Desta experiência, ninguém sai ileso, sempre algo se transforma dentro da gente, algo se passou.
1 comentários:
et voilà!
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